Jeje


  • Descrição

Termo surgido na Bahia, no início do século XVIII, para designar os africanos escravizados provenientes do antigo do reino do Daomé e seu entorno geográfico, na Costa da Mina, na África ocidental, correspondendo à região meridional da atual República do Benim e Togo. 

Surgido no contexto do tráfico atlântico de escravizados, o etnônimo servia aos traficantes portugueses para classificar uma pluralidade de povos falantes das línguas gbe, entre os quais os adjas, aizos, fons, dagomes, mahis, savalus, hulas, huedas (couras), guns, gens, popos. Aos poucos, esses africanos passaram a utilizar a denominação externa, de etimologia ainda incerta, para se autoidentificar, promovendo uma nova forma de pertencimento coletivo própria do contexto diaspórico, que se expressava em diversos processos associativos, como irmandades e candomblés. 

Em Minas Gerais e outras partes do país, no período colonial, esses povos eram designados pela categoria “mina”, de caráter mais abrangente. Nas suas terras de origem, cultuavam as divindades vodum e, no Brasil, tiveram papel fundamental na gênese do candomblé na Bahia e do tambor de mina no Maranhão, fornecendo a essas instituições um modelo organizativo de tipo eclesial. 

Os terreiros de nação jeje (e variantes, como jeje-mahi, jeje-savalu, jeje-dagome) se caracterizam pelo panteão – que inclui voduns como Legba, Azonsu, Sogbo, Kpo, Lissa, Bessem, Aizan, Azili-Tobosi, entre outros – e por aspectos litúrgicos, com saudações, rezas, cantigas, ritmos de tambor, danças e rituais diferenciados. Casas jejes fundadas no século XIX, como a Casa das Minas em São Luis do Maranhão, o Bogum em Salvador e a Roça do Ventura em Cachoeira, são consideradas matrizes de muitas outras espalhadas pelo Brasil.   

[1] Em CASTRO, Yeda Pessoa de: Falares africanos na Bahia: Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras;Topbooks, 2001, p. 259, o étimo apontado é o fon gedevi/gevi, nome antigo de habitantes do platô de Daomé.

[2] PARÉS, Luís Nicolau. A formação do candomblé: história e tradição da nação jeje na Bahia. Campinas. Ed. Unicamp, 2006, p. 214