Ibeji


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Protetor das crianças, esse orixá duplo tem seu nome muitas vezes mencionado no plural, como sinônimo de “gêmeos”, aos quais protege especialmente. Tem temperamento travesso e brincalhão, já que seu domínio é a infância, e sua simbologia, a da inocência. Os Ibêjis não incorporam em pessoas, mas brincam com elas, fazendo travessuras inofensivas, como esconder objetos, dar tombos etc. Assim, é preciso agradá-los com guloseimas e brinquedos, como crianças que são.

No Brasil, foram associados aos santos católicos Cosme e Damião, em alguns casos ligados a um terceiro irmão, chamado Doúm ou Doú, nome certamente originário do iorubá Idòwú, que se dá ao filho nascido após gêmeos. Entre os falantes das línguas gbe e nos candomblés jejes do Brasil, o vodum protetor dos gêmeos chama-se Hoho, e a criança nascida depois deles recebe o nome Dosú (literalmente, “fechar o buraco”). Ibêji e Hoho estão associados à floresta e a um tipo de macaco chamado edun oriokun entre os iorubás e zìnwó entre os gbes. Em contexto tanto africano como brasileiro, Ibêji e Hoho estão associados a Exu e à família de Xangô. 

Por suas características, às vezes são confundidos com os erês, entidades também infantis e brincalhonas que acompanham a manifestação dos orixás. No entanto, o que o candomblé chama erê é um estado de alteração de consciência que os iniciados no culto aos orixás vivenciam, comportando-se como crianças e muitas vezes agindo de acordo com as características do orixá de cabeça da pessoa. Nos candomblés brasileiros, é comum que os Ibêjis sejam cultuados na cerimônia do caruru dos meninos. O caruru preparado para louvar o orixá deve ser ofertado a sete crianças de rua e depois compartilhado entre toda a comunidade.

 

Na África, o nascimento de gêmeos é visto de formas opostas: em algumas sociedades, é tido como mau presságio e, em outras, como a dos iorubás, é cercado de bons augúrios, visto como sinal de boa sorte, fertilidade e riqueza. De modo geral, Ibêji e Hoho fazem parte de um conjunto de cultos associados aos nascimentos anômalos e à reprodução do grupo. Daí o cuidado com a perpetuação de suas vidas, através do culto ao orixá ou vodum que os representa. 

Como os gêmeos constituem uma unidade de corpo e alma, a morte de um deles significa o fim do outro, a menos que o sobrevivente incorpore sua outra metade. Uma das formas desse perigo está na aposição de nomes. Assim, o primeiro gêmeo a nascer recebe o nome de Taiwo (“aquele que sentiu primeiro o gosto da vida”); o segundo, de Kainde ou Kehinde (“o que demorou a sair”) [1]. Mas a família dos gêmeos só estará livre da ameaça de perda quando nascer o filho seguinte e lhe for colocado o nome de Idòwú, acima mencionado.

A palavra “mabaça”, utilizada no Brasil para designar os gêmeos, é de origem banto.

Nos candomblés Congo-Angola, Nkisi Nvunji KIssanga [ln1] está diretamente ligada à feminilidade, menstruação, fecundação, ao feto, à criança e ao adolescente. É uma eneregia que protege a mulher do início da gravidez até o nascimento da criança, pois é o Nkisi do líquido aminiótico. Depois acompanha a criança durante a primeira infância (muitas vezes como uma espécie de “amigo imaginário”). É também resposáveli é pela justiça mais prosaica, realizando julgamentos diante do caráter e ação dos filhos de santo. Se presenta sempre como uma criança e possui um ritual específico durante a iniciação de muzenza (iniciados nos candomblés Angola), chamada “Kitanda de Erê”. Nesse ritual, os Nvunji saem do ronkó para vender frutas e doces no barracão.

 [ln1]Aparentemente o inquice Nvunji não estaria associado aos gêmeos como Ibeji ou Hoho...mas aos eres

 [ln2]Nos candomblés jejes onde esse ritual é também praticado, como diz o próprio nome são os erês que se manifestam. Talvez Nvunji seria melhor traduzido por erê do que Ibeji.