Candomblés bantos


  • Descrição
  • Temas

Modalidades religiosas afro-brasileiras que compreendem os candomblés das nações Congo e Angola. Cultuam, em vez de orixás, entidades denominadas “inquices”, embora se saiba que, na África, entre os povos ditos “congos” (bakongo) e “angolas” (mbundu) e alguns vizinhos, o conceito de nkisinkixe ou mukixe (entre os quiocos, hamba) difere intensamente do significado brasileiro, designando um conjunto de elementos materiais, preparado por um ritualista, contendo uma entidade espiritual, muitas vezes o espírito de um defunto, que lhe confere força mágica. 

Segundo Roger Bastide, os candomblés bantos que estudou na Bahia reproduziam rituais e organização do candomblé jeje-nagô, mantendo diferenças, por exemplo, na linguagem ritual utilizada, nas cantigas e nas rezas, na denominação das entidades espirituais, nos ritmos de tambor e nos rituais de iniciação[1]. O mesmo havia sido observado por Edison Carneiro em Negros bantus, livro de 1937 no qual afirma que a liturgia dos cultos bantos imitava a dos jeje-nagôs[2]. Também para o antropólogo Ordep Serra[3] as divindades desses candomblés seriam em parte recriadas das jeje-nagôs, em face do protagonismo desse grupo na Bahia do século 19. 

Além de muitos outros pontos a favor, a história dos candomblés bantos na Bahia, reconhecível a partir do fim do século 19, registra a atuação de importantes líderes, como Gregório Maquende, Roberto Barros Reis, Maria Neném, Bernardino do Bate-Folha, Ciriaco etc, quase todos muito bem relacionados com os líderes dos candomblés jeje-nagôs. 

Apesar de uma tendência generalizada dos estudiosos das religiões afro-brasileiras em opor a pureza e a autenticidade dos candomblés jeje-nagôs à mistura e ao sincretismo dos candomblés angolas, as lideranças desta nação têm reivindicado o conceito de milonga, como mistura, emblema identitário e, de modo geral, estratégia de resistência africana no Brasil[4].  

[1] BASTIDE, Roger. As Américas negras. São Paulo, USP: Ed. DIFEL, 1974, p. 103.

[2] Republicado em CARNEIRO, Edison. Religiões negras: negros bantos. Rio, Civilização Brasileira, 1981, p. 185 e segs.

[3] SERRA, Ordep. Águas do rei. Petrópolis: Koinonia, p. 36-37.

[4] SANTANA, Esmeraldo Emeterio de Santana. “Nação Angola” In Encontro de nações de candomblé. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais, 1984, p. 36.