Última atualizacão: 19.04.2023
Greve Negra de Salvador
Ano 1858
- Descrição
- Bibliografia
- Temas
A primeira greve geral sobre a qual se tem notícia capaz de mobilizar um setor importante da economia urbana no Brasil foi protagonizada pelos “ganhadores” e “ganhadeiras”, trabalhadores de rua, escravos e forros, em sua maioria africanos de “nação nagô, que atuavam em diversas áreas do transporte de pessoas e objetos na capital baiana. Se organizavam em “cantos” de trabalho, ajuntamentos de africanos em pontos estratégicos - esquina de rua, praça, escadas das igrejas - que obedeciam a um chefe chamado “capitão”, encarregado de distribuir as demandas e acertar os preços, receber e distribuir os valores pelos serviços. O historiador João José Reis afirma ser o “canto” a “representação mais acabada da solidariedade e do espírito comunitário do trabalhador africano de rua”. Eles tinham mobilidade e autonomia, elementos de constante preocupação e motivo de intensas tentativas de controle desse setor pelo poder público e por senhores.
Em 11 de março de 1857, um parecer publicado pela Câmara de Salvador estabelece que os “ganhadores” precisavam realizar um registro municipal, pagar uma taxa e se submeter a procedimentos policiais – o que incluía o uso de uma abominada chapa de metal no peito que os identificava, com o objetivo de coibir furtos e extravios. Em 1º de junho de 1857, os trabalhadores iniciam uma greve que dura dez dias e paralisa a cidade. Diferente de outros movimentos coletivos feitos por escravizados ao longo do século XIX (como a Revolta dos Malês, de 1835, também em Salvador), a greve é pacífica e logra sucesso moderado, uma vez que as autoridades públicas recuam quanto a exigência do pagamento de impostos e a cobrança para a emissão da chapa, entretanto, a obrigatoriedade do uso da chapa numerada ao pescoço permaneceu, reforçando o lugar de suspeição atribuído aos trabalhadores africanos no oitocentos.