Zélia Amador


1951-

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Zélia Amador de Deus (Ilha do Marajó, Pará, 1951). Fundadora do Centro de Estudos e de Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), artista, oradora na Conferência de Durban e professora universitária. Zélia é uma das principais referências do movimento de mulheres negras e liderança do movimento negro da região amazônica. 

Depois da migração da família da Ilha do Marajó para a capital paraense, cresce na periferia de Belém (PA), no bairro de Sacramenta. Filha da empregada doméstica Doralice Amador, cresce sem o pai biológico. Suas referências familiares são seus avós maternos, Francisca Amador de Deus, lavadeira de roupas, e Manuel Faustino de Deus, pedreiro em projetos de saneamento básico.

Da família, recebe educação antirracista desde a infância. Da avó, a quem também chama de mãe, recebe o conselho de fortalecer a autoestima como negra. Sua educação se dá em escolas públicas durante todo o ciclo básico. 

Sua atuação política começa cedo: participa do movimento estudantil secundarista e é uma das fundadoras da chamada Frente de Ação Secundarista Paraense (Faspa), criado em 1968, ano marcado pelo aumento da repressão da ditadura civil-militar (1964-1985) e pelas grandes agitações estudantis que eclodem pelo mundo. 

Ao ingressar na Universidade Federal do Pará (UFPA), decide-se pelo curso de licenciatura em Língua Portuguesa e se forma em 1974. Prossegue os estudos na pós-graduação, com especialização em Teoria Literária, e torna-se professora do curso de Artes da UFPA. Seu mestrado é realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e tem como tema a produção literária de Dalcídio Jurandir (1909-1979), escritor negro da região amazônica.

Entre os anos de 1979 e 1980, ativistas negros da região amazônica passam a tematizar a questão racial por meio de linguagem, para além da democracia racial e da mestiçagem. Nesse contexto, Zélia participa ativamente de encontros e atividades que culminam com a fundação do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), organização de referência para o ativismo político não apenas do Pará, mas também de toda a região amazônica. O ativismo negro no qual Zélia Amador está envolvida no Pará é responsável por conquistas importantes na região, como o artigo 322 da Constituição Estadual, que reconhece terras quilombolas do estado, e o artigo 336, que estabelece medidas compensatórias para pessoas discriminadas no mercado de trabalho. As conquistas legais no âmbito estadual estão presentes no ordenamento jurídico desde 1989. 

Entre 1993 a 1997, atua como vice-reitora da UFPA. Em 2001, integra a comitiva brasileira que vai à Conferência de Durban, na África do Sul, onde se apresenta como uma das oradoras. No mesmo ano, com o apoio do Cedenpa, trabalha para a fundação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e o Grupo de Estudos Afro-Amazônicos (Geam), que produz pesquisa e trabalhos de extensão relacionados à temática da igualdade racial. Um aspecto importante desse grupo é a produção de conhecimentos e reflexões sobre a especificidades das culturas e identidades negras na região amazônica.

Importante em sua trajetória é a luta por ações afirmativas no ensino superior. Como docente e gestora pública, leva para o âmbito da universidade as demandas por acesso e permanência de estudantes excluídos do sistema universitário. Como esse tema é central em seu ativismo e sua trajetória na universidade, torna-se também objeto de estudo de seu doutorado em Ciências Sociais, defendido em 2008. Zélia Amador torna-se, desse modo, uma referência para as novas gerações universitárias da Amazônia e do Brasil.

Em 2021, a Escola de Samba Grêmio Recreativo Cultural e Carnavalesco Os Colibris escolhe como tema do enredo para o carnaval de 2022 a história de Zélia Amador, escolhida por ser uma personagem representativa da identidade e resistência negra paraense.