Vilma Reis


29.10.1969

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foto: Rafael Martins/ Folhapress

Atualização 13/04/2023

Vilma Maria dos Santos Reis (Salvador, Bahia,1969). Intelectual, ativista, militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Constrói sua trajetória em defesa da igualdade racial, de gênero e de classe social. Atua na política institucional e é referência na luta pela representação de mulheres negras no estado da Bahia. 

Filha de Wilson Ramiro dos Reis e Aurelina dos Santos Reis, passa a infância sob os cuidados da avó Mariola Reis, na cidade de Nazaré das Farinhas, no Recôncavo Baiano. Aos 13 anos, passa a residir em Salvador para estudar e ajudar o pai, que trabalha como barraqueiro em festas de largo. Na adolescência, envolve-se com o movimento estudantil e atua em gestões do grêmio do Colégio Central da Bahia e depois no Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). No início dos anos 1990, passa a integrar o Coletivo de Mulheres Negras da Bahia e se mantém próxima de organizações do movimento negro, como União de Negros pela Igualdade (Unegro) e Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).

Empenhada na mobilização de mulheres negras brasileiras, atua como coordenadora do Fórum de Mulheres de Salvador entre 1996 e 1999,  integra o Conselho Municipal da Mulher e participa da comissão organizadora do 12º Encontro Nacional Feminista, de 1997, realizado em Salvador. É uma das representantes brasileiras selecionadas para participar do programa The Afro-Brazilian Community Development Women's Training Project, realizado em 1998, em Washington-DC (Estados Unidos). Em sua trajetória se destaca o envolvimento com a  construção do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, entre 2009 e 2011, e da Marcha de Mulheres Negras, ocorrido em 2015. Participa em 2020 da fundação do Coletivo Mahin – Organização de Mulheres Negras, que se intitula como movimento anticapitalista, antirracista e anticolonial, popular e de esquerda.

Em sua trajetória acadêmica, com graduação e mestrado em Ciências Sociais e doutoranda em estudos africanos na UFBA, a socióloga atua como professora e pesquisadora em projetos no Centro de Recursos Humanos da UFBA (CRH) e nos programas A Cor da Bahia (UFBA) e Ceafro,  programa de educação para a igualdade racial e de gênero criado em 1995 pelo Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao) da UFBA, no qual atua como coordenadora executiva entre 2005 e 2010. Como pesquisadora no CRH, participa do projeto Raça e Democracia nas Américas, coordenado por Luiza Bairros (1953-2016), que promove o intercâmbio acadêmico entre pesquisadores brasileiros e estadunidenses. Em suas pesquisas acadêmicas, aborda a violência, com foco no debate da segurança pública e na denúncia do racismo e da violência na ação policial nas periferias de Salvador. Esses temas estão presentes tanto na monografia Operação Beiru (2001), como na dissertação Atucaiados pelo Estado (2005).

Sua atuação política contra a violação de direitos de homens e mulheres negras é marcada também pela duradoura relação com a Defensoria Pública do estado da Bahia, desde sua criação, em 2009. Inicialmente participa do conselho consultivo da assistência jurídica. Em 2005, é eleita ouvidora-geral do órgão e  apoia ações para a ampliação do alcance da defensoria, como a oferta do Curso de Defensoras Populares da Defensoria Pública do Estado da Bahia, em 2016, que atualiza mulheres de comunidades populares em temas como direitos da mulher e direitos humanos. Atua também como presidenta do Conselho Nacional de Ouvidorias das Defensorias Públicas. Reeleita para o posto, permanece no cargo de ouvidora até 2019.

Em julho de 2019, seu nome é apresentado para concorrer na eleição para a prefeitura de Salvador. Sua campanha tem como slogan a frase "Agora é ela: mulheres negras na Prefeitura de Salvador com Bicão na Diagonal". Embora sua candidatura não seja acolhida por um partido político, a campanha ganha repercussão nacional e apoio de intelectuais e ativistas negros. Integrada a um ciclo de mobilizações pela ampliação da presença e da participação de mulheres negras na política, a exemplo do Fórum Permanente de Formação e Fortalecimento Político Marielle Franco (criado em 2019), a pré-candidatura também é importante para o debate de paridade de gênero e raça no interior dos partidos políticos e de participação mais autônoma de mulheres negras nesses espaços.

Na política partidária, Vilma Reis situa sua trajetória em uma tradição formada por mulheres negras, a exemplo de Luiza Bairros, Lélia Gonzalez (1935-1994) e Marielle Franco (1979-2018), como afirma em entrevista de 2020: “Nós, mulheres negras, secularmente, construímos as possibilidades para chegarmos até aqui. Nós não vamos decorar nenhuma mesa, a gente se coloca para construir possibilidade de estarmos nas linhas de poder, nas linhas decisórias dos partidos, sem patrão, sem dono e sem tutela política afirmando nossa autonomia e dizendo: ‘A nova estética política é com as mulheres negras’ e essa não é uma frase que é para se perder no vazio”.