Uneafro


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foto: Paulo Liebert/Estadão Conteúdo

Atualização 13/04/2023

A Uneafro é uma organização popular e da sociedade civil e integra o movimento negro brasileiro. Criada na primeira década do século XXI, a instituição tem por objetivo combater o racismo e defender a cidadania para as pessoas negras no Brasil, em particular os jovens e adultos na área da educação.

A Uneafro Brasil se origina de uma dissidência da Educafro, organização  mais antiga e ligada à Igreja Católica e ao movimento negro, que oferece curso pré-vestibular para pessoas negras e em situação de vulnerabilidade social.

O aparecimento da Uneafro ajuda a diversificar e multiplicar no território de São Paulo os núcleos de educação voltados à conscientização política de jovens e adultos, com ações que esclarecem o que é racismo e o que são direitos sociais, políticos e humanos, e que os preparem para o ingresso no ensino superior. A organização conta com  cursinhos pré-vestibulares nas comunidades e bairros periféricos e seus docentes realizam trabalho voluntário na organização. Essa ação contribui para o desenvolvimento da autoestima e a valorização de negras e negros de origem periférica e, sobretudo, oferece a eles preparação adequada para os exames vestibulares das universidades públicas.

A origem da Uneafro pode também ser explicada na luta por ações afirmativas, em particular nos momentos mais tensos de convencimento público de que há necessidade de políticas de inclusão nas universidades, dado o viés elitista dessa instituição, frequentada pela população de classe média e majoritariamente branca. Um momento emblemático dessa luta é o debate pela implementação de cotas para pessoas negras e estudantes de escolas públicas. A discussão acirrada ganha defensores da proposta nos setores populares, na sociedade civil e em parte da academia, mas também encontra forte resistência dos meios de comunicação hegemônicos, do empresariado e de setores acadêmicos mais conservadores. 

Em meio ao intenso debate, a Uneafro surge como uma força política independente da Igreja católica, mas com fortes vínculos com os espaços e territórios periféricos da cidade de São Paulo. Ao lado de outras organizações – como Educafro, Stive Biko, Núcleo da Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP), Geledés, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) –, exerce papel fundamental para a aprovação da proposta na burocracia universitária e, depois, para a legitimação dessa política pública pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Por fim, a organização tem importante atuação na aprovação da legislação que regulamenta as cotas no ensino público universitário, o que ocorre em 2012, com a chamada Lei de Cotas, sancionada pela então presidenta do Brasil, Dilma Rousseff (1947).

Uma das principais figuras públicas da organização é o ativista Douglas Belchior (1978), cuja atuação pública transcende as fronteiras nacionais, posto que participa de conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) e das demais organizações internacionais em defesa da autodeterminação dos povos e dos direitos humanos.

Durante sua existência, a Uneafro é uma das organizadoras mais veementes nos protestos na cidade de São Paulo, na defesa da democracia e dos direitos civis e contra os abusos das forças policiais e as discriminações raciais em espaços de consumo, lazer e de sociabilidade. Como são comuns situações de preconceito, discriminação e racismo nos ambientes públicos no Brasil (como supermercados, shopping centers ou clubes sociais, bares e restaurantes), organizaçãoes como a Uneafro atuam para publicizar os casos, realizar acolhimento da vítima e de sua família, encaminhando-os às instâncias que podem mediar os conflitos e gerar a responsabilização dos agressores.

Em 2019, a Uneafro torna-se uma das organizações fundadoras da Coalizão Negra por Direitos, rede de articulação a que várias associações, coletivos e entidades negras estão vinculados com objetivo de denunciar e combater as políticas neoliberais, a brutalidade das ações das Forças Armadas nas favelas e periferias brasileiras, bem como se opor às propostas e aos projetos de lei punitivistas, que geram mais encarceramento da população negra. São objetivos dessa organização a luta pela representação política negra e o enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas, além da defesa das ações afirmativas. 

A organização popular conta com papel importante durante a pandemia da Covid-19, em 2020, sobretudo com distribuição de cestas básicas e produtos de higiene para as populações das periferias do Brasil. A Uneafro atua com a Coalizão Negra por Direitos e os demais organismos da sociedade civil para denunciar a violência e a discriminação aos órgãos internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ademais, tanto nas redes sociais, como nos protestos de rua, se apresenta  como organização de base comunitária e política em defesa das pessoas negras e de sua cidadania. Pode-se ressaltar também as ações na marcha de 20 de novembro, data em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, bem como nas manifestações contra o genocídio da população negra.

Como várias outras organizações do movimento negro brasileiro espalhadas e atuantes em todo o território nacional, a Uneafro apresenta um projeto de atuação pública de combate ao racismo estrutural, realizando denúncias das autoridades públicas em casos de omissão ou de ação desproporcional em relação ao uso da força e em casos de abuso de autoridade. Quanto à educação, a Unefro atua para que estudantes secundaristas conheçam seus direitos, como as ações afirmativas, e sejam capacitados para os exames de ingresso nas universidades públicas brasileiras.