Tereza de Benguela
17??-
1770)
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Tereza de Benguela (Local desconhecido, 17?? – Capitania de Mato Grosso, 1770). Importante líder quilombola do século XVIII, mulher escravizada e insurgente fugida do capitão Timóteo Pereira Gomes. Revolucionária e liderança quilombola, sua vida é dedicada à luta por sua liberdade e de seus semelhantes, tornando-se símbolo da resistência quilombola até os dias atuais.
Apesar do nome, o local de nascimento de Tereza de Benguela é desconhecido. Ela pode ter nascido em algum país do continente africano, como indica sua alcunha, ou no Brasil. Casa-se com José Piolho, chefe do Quilombo do Quariterê (conhecido também como Quilombo do Piolho), assassinado por soldados do Estado por volta de 1750. O quilombo, situado na atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia, é o maior quilombo desse estado brasileiro.
O reinado de Tereza aponta para duas hipóteses: a primeira diz que ela assume a liderança do quilombo após a morte de seu companheiro; a segunda indica que, desde sua formação, em 1730, Quariterê esteve sob sua direção.
A Rainha Tereza, como também é chamada, comanda a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. A principal fonte documental sobre a vida no Quariterê é o Anal de Vila Bela, de 1770. De acordo com o documento, a rainha Teresa reina soberana no quilombo com firmeza e rigor. Aplica duros castigos, como enforcamento, fratura das pernas e enterramento vivo para desertores, pois isso coloca em risco a segurança, a defesa e a própria existência do quilombo.
Quariterê mantém uma governabilidade que funciona à semelhança de um parlamento, com deputados, um conselheiro, reuniões e uma sede, como atestam os Anais de Vila Bela [1]. Segundo registros, o Quilombo de Quariterê permanece ativo entre 1730 e 1795, e a comunidade se sustenta com o cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca e banana e com venda dos excedentes produzidos.
Sob liderança de Tereza, as comunidades negra e indígena resistem à escravidão por duas décadas, quando o quilombo é abatido em 1770 pelas forças do governador da capitania de Mato Grosso, Luís Pinto de Sousa Coutinho (1735-1804). A rainha ordena que os quilombolas peguem armas para resistir [2]. Entretanto o quilombo não resite e, além dos mortos, são aprisionados 79 negros e trinta indígenas. Eles são levados para Vila Bela, onde sofrem humilhantes e cruéis castigos em praça pública, além de serem marcados a ferro com a letra F, que designa o termo "fujão", como determina o Alvará Régio.
Alguns quilombolas conseguem fugir do ataque e reconstroem Quariterê. No entanto, em 1777, o quilombo sofre uma nova investida das forças coloniais e é extinto em 1791. Para impedir novas revoltas e garantir os interesses de Portugal, no local é construída a Aldeia da Carlota.
Fontes históricas revelam-se inconclusivas sobre a morte da Rainha Tereza. Uma versão diz que Tereza é morta e sua cabeça é pendurada no quilombo pelos colonizadores Bandeirantes. Outra versão afirma que Tereza se suicida na prisão.
Em homenagem à Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente estabelecido no Brasil como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data comemorativa é instituída pela Lei n. 12.987/2014.
Rainha Tereza também é homenageada em 1994 no samba-enredo Tereza de Benguela – Uma rainha negra no Pantanal, da escola de samba Unidos do Viradouro.
A revolucionária Tereza de Benguela é responsável pela organização política e militar do Quilombo do Quariterê durante duas décadas, abrigando e protegendo mais de cem pessoas, entre negros e indigenas. Apesar dos poucos registros de seus feitos, deixa um legado heroico de luta e resistência que inspira tantas outras mulheres negras da América Latina que resistem e lutam por seu povo até os dias atuais.
Notas
[1] “Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.” (Anal de Vila Bela do ano de 1770).
[2] “Alguns de seus súditos assim o fizeram, acudindo à voz e pegando em armas; mas não puderam usar delas pela força que viram contra si” (ibidem).