Rafael Pinto


1948-

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foto: Valéria Gonçalvez

Atualização 13/04/2023

Osvaldo Rafael Pinto Filho (São Paulo, São Paulo, 1948). Ativista. Estuda no Colégio Cristóvão Colombo, em turno integral, como aluno externo – que não dorme na escola. Por intermédio de uma ex-contratante de sua mãe, consegue uma bolsa na instituição, porém não tem condições de prosseguir os estudos, devido à falta de cadernos e uniformes. Essa limitação financeira o impede também de concluir a primeira comunhão, para a qual é necessário possuir um traje adequado. Como estuda em um colégio católico e a primeira comunhão é requisito para a permanência na escola, Rafael precisa se mudar para o Grupo Escolar São José, onde fica até o final do primeiro ciclo escolar. 

Por uma confusão, não avança ao ciclo seguinte: Rafael é informado que, para fazer o exame de admissão ao curso ginasial, é necessário apresentar um documento assinado pelos pais, com “firma reconhecida”. Seguindo o entendimento de uma criança que não sabe que firma era uma assinatura e não uma empresa, o menino entende que seu pai não está apto a assinar o papel por trabalhar como pedreiro e não possuir uma “firma” a ser “reconhecida”.

Por crescer rápido e muito nos primeiros anos da adolescência, Rafael passa a andar com rapazes mais velhos, trabalhando durante o dia. Por influência de um desses rapazes, Rafael volta à escola: é João Sapé quem lhe explica como funciona a progressão escolar até a vida adulta e lhe diz que deve fazer faculdade para estar com a vida organizada aos 25 anos de idade.

Aos 14 anos, sempre estudando à noite e trabalhando durante o dia, começa a atuar profissionalmente na Metalúrgica Ítala. Cursa o ciclo escolar à época conhecido como científico no Colégio Alexandre de Gusmão, porque tem planos de estudar engenharia por influência do pai, pedreiro. Lá, o professor de língua portuguesa ensina os clássicos literários escritos em português. O professor de inglês transmite os clássicos do idioma por meio do livro The modern english, no qual Rafael lê discursos de John Kennedy (1917-1963) e de Ernest Hemingway (1899-1961), entre outros. 

Vive ali o movimento estudantil secundarista contra o aumento da passagem de bonde e participa de manifestações contra esse fato. Bafejado pelos discursos do Martin Luther King Jr. (1929-1968) que chegam no Brasil pelo rádio, desperta para a questão da consciência racial. 

No cursinho, organiza um grupo de estudantes negros. Conhece Roberto Cruz, Frederico de Souza Cruz e Frederico Firmino. Esse grupo é levado para as reuniões na casa do sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira (1924-1980), onde frequentemente se discute a situação do negro. Outros ativistas se envolvem nas reuniões, dentre os quais estão Ivair dos Santos (1950), Elida Pinheiro, Márcio Damásio, Neusa Maria Poli.

Com seu amigo de escola, Milton Barbosa (1948), se reúne com Iracema de Almeida (1925-2005), uma médica negra que tem boa relação com negros dos Estados Unidos. A partir desse ponto, Rafael Pinto começa a militar na Associação Cultural do Negro (ACN).

Em 1968, no segundo ano do científico, entra na Guarda Civil, com 19 anos. Começa a se organizar junto com os demais colegas militantes, muito motivados pelos movimentos de libertação da África portuguesa nas décadas de 1960 e 1970 e pelo desdobramento da luta pela libertação na África do Sul, liderada por Nelson Mandela (1918-2013). 

Em 1973, junto com Milton Barbosa, organiza o grupo Decisão, atuante no movimento negro e na escola de samba Vai-Vai, onde disputam a diretoria e criam alas. Em 1974, ingressa como funcionário na Universidade de São Paulo (USP) e atua no sindicato dos trabalhadores da universidade. Permanece até 1984, quando passa a trabalhar na Fundação para o Bem Estar do Menor (Febem).

Entra para a organização clandestina de esquerda Liga Operária, em 1975, mesmo ano em que Neninho de Obaluaê é preso. Começa a fazer um trabalho de conscientização nas cadeias, organizando células dentro das prisões, e visita Neninho, que está como preso comum e não político. Participa do ato de 7 de julho de 1978. 

No congresso internacional da Anistia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1979, defende o preso, preto!. Participa do filme Pixote: a lei do mais fraco (1980), de Hector Babenco (1946-2016), que aborda a questão racial e a violência policial.

Em 1984 ingressa na Febem e articula diálogos com diversos setores a fim garantir a sobrevivência da juventude preta em condições de privação da liberdade.

Ingressa, em 1987, no Banespa e ali permanece até a aposentadoria, militando no sindicato dos bancários. O foco do sindicato é economicista, mas sofre pressão dos movimentos sociais para abordar assuntos sociais e Rafael articula a questão racial.

Conclui o curso de ciências sociais na Universidade Bandeirantes (Uniban), em 1990. Em 1991, funda, ao lado de Paulo Rafael, Flávio Jorge, Gevanilda Santos, Maria Palmira e outros, a Soweto Organização Negra.

Em 2000, ingressa na Coordenaçao Nacional de Entidades Negras (Conen) e deixa o Movimento Negro Unificado (MNU). Atualmente, dedica-se à Rede Brasil Afro Empreendedor (Reafro).