Nilma Lino Gomes


1961

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foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Atualização 13/04/2023

Nilma Lino Gomes (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1961). Pedagoga, gestora, escritora,  intelectual. Tem a trajetória marcada pelo pioneirismo de ser a primeira mulher negra do Brasil a comandar uma universidade pública federal: em 2013, é nomeada reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizada na cidade de Redenção, Ceará. Suas publicações incluem desde livros e artigos resultados de pesquisas de campo e voltados para o público universitário até narrativas de ficção destinadas para crianças e jovens.

Em 1988, forma-se em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde segue para o mestrado em Educação, concluído em 1994. Em 1995, torna-se professora de Pedagogia da UFMG e lança o livro A mulher negra que vi de perto, publicado pela Mazza Edições, baseado em sua dissertação. O tema analisa a trajetória de professoras negras de Belo Horizonte. Entre 1994 e 1996, ministra aulas no Curso de Aperfeiçoamento de Professores do projeto Escola Plural, implementado durante a gestão na prefeitura de Belo Horizonte de Patrus Ananias (1952), do Partido dos Trabalhadores (PT). É vinculada desde 2006 como professora associada ao Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal), depois da realização de seu pós-doutorado, orientada pelo professor doutor Boaventura de Sousa Santos (1940).

Ao lado do professor Juarez Dayrell, da Faculdade de Administração e Economia  (FAE) da UFMG, funda em 2002 o Observatório da Juventude (OJ) da UFMG, no qual atua como vice-coordenadora durante quatro anos. Esse programa é responsável por ações de ensino, pesquisa e extensão no campo temático das juventudes e forma diversos estudantes de graduação e pós-graduação nessa área. Torna-se membro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), na qual ocupa o cargo de presidente entre 2004 e 2006. Participa também da comissão julgadora do Prêmio Paulo Freire, edição 2003-2004, oferecido pela prefeitura de Belo Horizonte.

Entre 2010 e 2014, integra a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) do Ministério da Educação. Como conselheira, emite parecer sobre o livro Caçadas de Pedrinho, de autoria de Monteiro Lobato (1882-1948), a partir de denúncia feita à Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). No documento, declara que, de maneira geral, o conteúdo sobre sujeitos negros e universo africano é estereotipado. O parecer apresenta sugestões de diretrizes para a obra não ser usada como dispositivo naturalizador do racismo no Brasil. O parecer ganha repercussão na mídia, pois é mal interpretado e divulgado como pedido de censura à obra de Monteiro Lobato.

Em 2015, é cedida pela UFMG para atuar na equipe ministerial do segundo mandato de Dilma Rousseff (1947) no cargo de ministra da Seppir. No fim do mesmo ano, depois da reestruturação dos ministérios do governo federal, passa a atuar em uma nova pasta: no Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos. Em 2016, participa de eventos contrários ao processo de impeachment de Dilma Rousseff e permanece no cargo até 12 de maio de 2016, dia do afastamento da presidenta pelo Senado Federal. 

Recebe muitos prêmios ao longo de sua carreira. Desde 2004, é agraciada por suas pesquisas sobre questões raciais e educação. Em 2016, ganha o prêmio Efigênia Francisca, oferecido pelo Conselho de Promoção da Igualdade Racial; o diploma de Honra ao Mérito, dado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte; o Diploma Abdias do Nascimento, concedido pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; e a Medalha Zumbi dos Palmares, ofertada pela Câmara dos Vereadores de Duque de Caxias.

Entre sua vasta produção intelectual, destaca-se sua tese de doutorado, orientada por  Kabengele  Munanga (1940), Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Lançado como livro em 2006, a obra discorre sobre o cabelo não apenas como parte do corpo individual e biológico, mas também como corpo social e linguagem, como veículo de expressão e símbolo de resistência da cultura afro-brasileira. Em 2009, a escritora estreia na ficção infantojuvenil com Betina, obra na qual o cabelo novamente surge como símbolo identitário, agora pelas mãos de quem se dedica com esmero aos penteados afros. Além desses trabalhos individuais, a autora organiza com outros autores cerca de quinze livros.

Nilma Lino Gomes é uma pioneira engajada, cuja produção é dedicada à relação entre o conhecimento e a valorização do negro sua emancipação social. A numerosa produção acadêmica da autora coloca em pauta reflexões teóricas sobre relações raciais, formação de professores, diversidade étnico-racial e movimentos sociais. A pedagoga exerce também a ação política como parte de seu compromisso  político-epistemológico de produzir ciência com o foco na emancipação social, preservando o vínculo contínuo entre educação básica e movimentos sociais.