Movimento Negro Unificado
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Atualização 13/04/2023
O Movimento Negro Unificado (MNU) é criado durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), em reunião realizada na capital paulista no dia 18 de junho de 1978. A fundação conta com presença de organizações políticas e de lideranças e intelectuais negros de novas e antigas gerações do ativismo. O nascimento dessa organização expressa não apenas uma nova linguagem, mas também uma nova agenda de combate ao racismo no país, marcada pela denúncia do mito da democracia racial.
Durante o regime autoritário, movimentos sociais lutam pelo retorno à democracia. Organizações, ativistas e jornais negros em todo o país questionam a ideia de democracia racial presente nos discursos do governo militare brasileiro em contextos nacional e internacional. O questionamento desse mito da democracia racial por militantes antirracistas passa pela visibilização e politização nos espaços públicos dos casos cotidianos de preconceito e discriminações raciais.
No final da década de 1970, quando a imprensa alternativa negra ganha fôlego e as organizações políticas em defesa da democracia se fortalecem, criam-se frentes amplas para derrotar o regime ditatorial. Os militantes negros em aliança com setores progressistas e democráticos da sociedade organizam um ato público contra a discriminação racial. A violência sofrida por atletas negros no Clube Regatas Tietê e a tortura e o assassinato do trabalhador Robson Silveira da Luz (1957-1978) nas dependências da delegacia do 44º Distrito Policial servem de estopim para a convocação de entidades antirracistas de todo o país para o protesto. Durante o ato do dia 7 de julho, emerge publicamente e em termos nacionais uma nova organização negra nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. O evento se torna um marco da memória negra afro-brasileira.
Para a manifestação são distribuídos panfletos em espaços de organização e sociabilidade negras, como bailes soul, clubes e shows, convocando a juventude negra para participar do ato político. O protesto conta com lideranças políticas, como Abdias do Nascimento (1914-2011) e Lélia Gonzalez (1935-1994), além de jovens militantes, como Neusa Maria Pereira (1948) e Hamilton Cardoso (1953-1999), jornalistas e criadores da Coluna Afro-Latino América do Jornal Versus (1977-1979), José Adão de Oliveira, funcionário dos Correios, Raphael Pinto e Milton Barbosa, respectivamente, estudantes de economia e ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP).
Originalmente, o MNU chama-se movimento contra a discriminação racial (MNCDR), mas por sugestão de Abdias do Nascimento, o nome da organização passa a trazer o termo negro para a sua identidade pública. Além de receber influência e apoio das organizações negras brasileiras tradicionais, o MNU se inspira nas lutas antirracistas e anticoloniais do século XX, como o movimento pelos direitos civis e dos Panteras Negras [1], dos Estados Unidos. Inspira-se também nas lutas revolucionárias e por independência dos países africanos, bem como nas campanhas e revoltas contra o apartheid na África do Sul [2]. Esse contexto de enfrentamento ao racismo no planeta é decisivo para fortalecer as ações do MNU.
A agenda do movimento é extensa e inclui demandas que vão de direitos civis a direitos políticos, passando pela luta contra a violência policial contra pessoas negras. As campanhas do MNU são diversas: contra a discriminação racial, a opressão policial, o desemprego e o subemprego. Além do mais, a agenda pública do grupo contempla a luta contra a marginalização social da população negra e a denúncia das condições econômicas precárias às quais as famílias negras são impelidas.
A organização conta por muitos anos com o periódico Jornal do MNU, que registra as ações coletivas da entidade, seus princípios e posicionamentos nos processos políticos nacionais e internacionais, bem como informa sobre eventos e episódios de racismo no cotidiano da população negra brasileira.
A organização, desde então, exerce um combate intransigente à discriminação racial, defende a cidadania plena de pessoas negras no país e atua ativamente para denunciar e enfrentar o genocídio da população negra. Seu maior legado é a nacionalização do antirracismo brasileiro e a construção do racismo como fenômeno institucionalizado na sociedade brasileira.
Notas
[1] O movimento Black Panther surge em 1966 nos Estados Unidos durante as lutas pelos direitos civis da população negra. Originalmente se trata de uma organização política que busca desenvolver consciência crítica nas comunidades periféricas das cidades norte-americanas. O movimento denuncia o racismo institucional nos Estados Unidos, a precarização da vida dos trabalhadores negros, a má qualidade dos serviços públicos nos territórios habitados por negros e a brutalidade da ação policial contra os afro-americanos. O filme Infiltrado na Klan (2018), do diretor estadunidense de Spike Lee (1957), mostra muitos aspectos do pensamento e ação dos panteras negras.
[2] O apartheid é um regime de segregação racial que se estabelece oficialmente na África do Sul entre os anos de 1948 e 1994. Durante esse período, a minoria branca sul-africana detém a maioria das terras e o poder político, além de controlar a circulação de trabalhadores negros no território nacional.