Milton Santos


03/05/1926

24/06/2001

  • Descrição
  • Bibliografia
  • Temas
foto: Moacyr Lopes Júnior / Folhapress

Atualização 03/10/2023

Milton Almeida dos Santos (Brotas de Macaúba, Bahia, 1926 – São Paulo, São Paulo, 2001). Geógrafo, intelectual, jornalista, gestor público e professor. Referência incontornável na área de geografia humana e nos estudos sobre globalização, Milton Santos é reconhecido mundialmente e é o primeiro pesquisador brasileiro a receber o prêmio Vautrin Lud, considerado como o Prêmio Nobel da área de geografia.

Filho e neto de professores primários, é alfabetizado pelos pais e avós, com quem aprende álgebra e francês. Aos 10 anos, em Salvador, é matriculado no Instituto Baiano de Ensino, onde desenvolve o interesse pela geografia. Ao terminar os estudos ginasiais, ingressa no curso pré-jurídico entre 1942 e 1943 e, no ano seguinte, é aceito como aluno da Faculdade de Direito de Salvador, concluindo o curso em 1948. Depois de formado, leciona Geografia Humana para o ginásio no colégio municipal de Ilhéus (BA). Lá, se casa com Jandira Rocha, mãe de seu primeiro filho. Nesse período, também trabalha para o jornal A Tarde – no início como correspondente, depois como editor – e escreve o livro Zona do cacau, posteriormente incluído na Coleção Brasiliana, já com influência da escola francesa do pós-guerra. 

Nos anos 1950, muda-se com a família para Salvador, onde exerce cargos públicos e dá início à carreira acadêmica como professor na Universidade Católica em 1956. No mesmo ano, participa do  Congresso Internacional de Geografia, no Rio de Janeiro, e é convidado para prosseguir a carreira acadêmica na França. Em 1958, obtém o título de doutor em geografia pela Universidade de Estrasburgo, com a tese O centro da cidade de Salvador, sob orientação do geógrafo francês Jean Tricart (1920-2003).

Ao retornar ao Brasil, cria o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, mantendo intercâmbio com os mestres franceses. Em 1960, torna-se livre-docente em Geografia Humana pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Nesse período, tem atuação marcante na vida acadêmica, em atividades jornalísticas e políticas de Salvador.

Em 1961, viaja a Cuba como editor do jornal A Tarde, acompanhando a comitiva do presidente Jânio Quadros (1917-1992), de quem se torna amigo e colaborador. Atua como subchefe da Casa Civil na Bahia, cargo que exerce durante o curto mandato do presidente.

Em 1964, ano do golpe militar no Brasil, é preso e tem interrompidos os planos de lecionar na UFBA. Importantes personalidades locais, sobretudo o cônsul da França na Bahia, intervêm junto às autoridades militares locais para negociar a saída do professor do país Depois de cumprir meio ano de prisão domiciliar e divorciado da primeira esposa, Milton Santos segue para o exílio e passa treze anos no exterior.

Na França, conhece Marie Hélène Tiercelin, também geógrafa, com quem se casa em 1972. Durante essa fase no exterior, apega-se à filosofia e empenha-se em conferir status de filosofia à geografia.

Inicia sua carreira no exterior lecionando em Toulouse, depois passa por Bordeaux e Paris, onde leciona na Sorbonne. Em 1971, instala-se no Canadá (Universidade de Toronto) e segue para os Estados Unidos como pesquisador convidado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), trabalhando com o linguista e filósofo estadunidense Noam Chomsky (1928). Passa ainda pela Venezuela, onde atua como diretor de pesquisa e planejamento de urbanização das Nações Unidas (ONU). Datam dessa época as pesquisas do geógrafo sobre os processos de urbanização das cidades do então chamado “Terceiro Mundo”. Depois realiza trabalhos de pesquisa sobre pobreza urbana na América Latina em Lima (Peru), onde também leciona na Faculdade de Economia da Universidade Central. Reside  por dois anos na Tanzânia, onde organiza o curso de pós-graduação em Geografia da Universidade Dar-es-Salaam. De volta aos Estados Unidos, leciona na Universidade de Columbia, em Nova York, antes de terminar o longo período de exílio .

Retorna ao Brasil em 1977 e se torna consultor de planejamento do estado de São Paulo. Entre 1979 e 1983, leciona como professor visitante na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em seguida, é contratado como professor titular da Universidade de São Paulo (USP), onde leciona até se aposentar.

O legado de Milton Santos conta com 44 títulos publicados em diversos idiomas e mais de trezentos artigos e pequenas publicações. Entre outros trabalhos, podem ser destacados: Por uma geografia nova (1978), obra que marca, sobretudo, os geógrafos marxistas do país. Nesse livro, o autor preconiza uma geografia voltada para as questões sociais. Suas produções mais recentes fundamentam as principais teorias contemporâneas antiglobalização. Em 1994, é reconhecido com o prêmio Vautrin Lud [1], considerado como o Prêmio Nobel da área de geografia. Em 2001, é filmado o documentário Encontro com Milton Santos: o mundo global visto de cá, dirigido por Silvio Tendler (1950) e lançado em 2006. O filme apresenta, por meio de entrevistas, alguns dos principais conceitos do geógrafo.

Milton Santos acumula dezenas de títulos e homenagens no mundo inteiro. São vinte títulos de doutor honoris causa, doze deles conferidos por universidades brasileiras, e oito, por estrangeiras, além do título de professor emérito da USP, recebido em 1997. Ele é referência para os pesquisadores negros e ativistas, especialmente do cursinho pré-vestibular para negros da USP.

O acervo pessoal e acadêmico de Milton Santos se encontra disponível no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP. Além da rica contribuição acadêmica, o geógrafo tem diversos discípulos acadêmicos e ativistas no Brasil e no mundo que preservam seu pensamento vivo não apenas dentro dos muros da universidade, mas também o irradiam para a sociedade.

Notas

[1] Milton Santos é o primeiro intelectual de um país pobre e o primeiro que não tinha o inglês como língua pátria, agraciado  com esse prêmio. Essa distinção internacional promove o redescobrimento de Milton Santos no Brasil, que passa a ser requisitado por órgãos de imprensa para entrevistas e depoimentos.

Conheça mais sobre Milton Santos no site da Ocupação Itaú Cultural.