Matilde Ribeiro


1960-

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Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo

Atualização 13/04/2023

Matilde Ribeiro (Flórida Paulista, São Paulo, 1960). Assistente social, professora universitária, pesquisadora, gestora e a primeira ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial  (Seppir), órgão do Poder Executivo instituído em 2003. Autora de inúmeros artigos sobre feminismo, organização de mulheres negras e políticas públicas antirracistas. Sua trajetória é marcada pela forte atuação na sociedade civil, no Partido dos Trabalhadores (PT), na gestão pública  em esferas municipal, nacional e internacional.

Paulista e filha de pais migrantes, a mãe Joselina Roberto Ribeiro (1927) é trabalhadora doméstica, e o pai, Manuel Ribeiro Neto (1935), vigilante. Em 1983, gradua-se em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Aproxima-se do grupo negro da faculdade, no qual militantes como Flávio Jorge Rodrigues da Silva debatem a questão racial na instituição. Torna-se mestre em Psicologia Social em 1999 e conclui o doutorado em Serviço Social em 2013, ambos pela mesma instituição. Na sua formação acadêmica, também constam especializações em Gestão Ambiental, pela Universidade de São Paulo (USP).

Participa da formação e da institucionalização da Seppir e é a primeira ministra do órgão, assumindo o cargo em março de 2003. Ligada ao movimento feminista e com inserção no movimento negro paulista, tem longa trajetória partidária no PT, partido em que atua desde os anos 1980. No campo profissional, tem inscrita em sua carreira a gestão de políticas públicas para igualdade de gênero e raça no ABC Paulista, especialmente na cidade de Santo André, a partir do segundo mandato de Celso Daniel (1951-2002). Nessa administração, bastante porosa para os movimentos sociais, ocupa a Assessoria de Defesa da Mulher, articulando-se com organizações civis locais negras e feministas, além de estabelecer parcerias com o ativismo da capital paulista.

Com experiência exitosa em Santo André e com a presença de Celso Daniel na formulação do programa petista para a presidência da República, é indicada para integrar a equipe que elabora o documento “Brasil sem racismo”, integrante da plataforma eleitoral do então candidato Luís Inácio Lula da Silva (1945). Por meio da experiência de gestão local no ABC, o grupo de Matilde no PT consegue projetar a Seppir e permitir que a gestora petista ocupe a chefia da secretaria nacional. Sua atuação é importante para a formalização da secretaria e para dar visibilidade para as políticas tanto de ações afirmativas em âmbito federal, como as dedicadas às populações quilombolas. 

Como gestora da igualdade racial, acompanha a tramitação do Estatuto da Igualdade Racial, que fica no Congresso Nacional por quase dez anos até ser aprovado em 2010. Em 2006, participa da abertura da Conferência Regional das Américas sobre os avanços do Plano de Ação contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas.

Durante sua gestão, envolve-se em polêmicas com grande destaque na mídia. Uma delas é provocada pela declaração pública para a BBC de que não há racismo quando negros se insurgem contra brancos. Essa declaração leva a deputada Andreia Zito (1974), do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a solicitar investigação na Procuradoria Geral da República (PGR), sob alegação de que a ministra pode ter cometido crime de racismo. Em 2008, o Ministério Público Federal do Distrito Federal arquiva essa representação. A ministra permanece no cargo de 2003 a 2008. 

Em sua trajetória acadêmica, escreve vários artigos sobre feminismo, movimento de mulheres negras, desigualdades de raça e gênero e participa de conferências e encontros internacionais. Além disso, organiza livros sobre políticas públicas de igualdade racial e apresenta sua tese de doutorado, Institucionalização das políticas de igualdade racial, defendida em 2013 e publicada no ano seguinte.

Ao sair do ministério, Matilde Ribeiro torna-se docente do Instituto de Humanidades e Letras da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira  (IH/Unilab), onde leciona no campus de São Francisco do Conde, na Bahia. Em 2021, é homenageada pela Universidade Federal do ABC (UFABC), que lhe concede o título de doutora honoris causa pelo conjunto da obra.

A história sobre a agenda da igualdade racial no âmbito federal é escrita por diversas ações e personagens importantes de várias partes do Brasil. Uma delas é Matilde Ribeiro, que encabeça a luta por políticas públicas à frente de uma forma organizacional nova, a Seppir, com o desafio inédito de inserir na agenda do Estado o compromisso e as ações sistemáticas de combate ao racismo e às desigualdades raciais históricas.