Maria Lucia da Silva


1949-

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Maria Lucia da Silva (Mirassol, São Paulo, 1949). Psicóloga, psicanalista e psicoterapeuta brasileira. Especialista em trabalhos com recorte de gênero e raça e sobre a questão da negritude e do racismo dentro da psicologia. Com atuação em diferentes instituições, permite a consolidação do debate sobre racismo e saúde mental no Brasil.

Maria Lucia da Silva é filha da afro-indígena Jordelina Maria de Souza e do benzedor Antônio Francisco da Silva. Aos 3 anos, muda-se com a família para a capital paulista. Começa a trabalhar aos 6 anos como ajudante de limpeza em uma boate. Na década de 1970, trabalha como auxiliar de escritório. Nesse período, conhece dois ativistas negros no metrô que lhe falam sobre racismo. A partir desse contato, inicia sua trajetória no ativismo.

Em 1976, em pleno período de regime autoritário, reabre ao lado de outros ativistas negros  a organização Centro de Cultura e Arte Negra (Cecan), entidade do movimento negro em que atuam Thereza Santos (1930-2012), Odacir de Mattos, Eduardo de Oliveira e Oliveira (1923-1980), entre outros importantes intelectuais. Participa também ativamente dos movimentos negros na cidade, nesse período de efervescência política, com contestações sociais contra a ditadura civil-militar, e de crescimento de organizações e imprensa negra.

Em 1980, ingressa no curso de psicologia da Faculdade Paulistana, em São Paulo. Forma-se em 1985 e, no mesmo ano, começa a atuar na área clínica. Em 1987, especializa-se em Saúde Coletiva no Instituto de Saúde da Secretaria do Estado de São Paulo e, entre 1994 e 1997, obtém especialização em dinâmica energética do psiquismo.

Em 1986, participa do desenvolvimento de trabalhos e discussões sobre o impacto da combinação de gênero e racismo na comissão de mulheres negras do Conselho Estadual da Condição Feminina no Estado de São Paulo.

Após sua atuação nessa comissão, reúne-se com Solimar Carneiro, Edna Roland (1951), Sueli Carneiro (1950), Nilza Iraci (1950), Ana Lucia Xavier Teixeira. Elas fundam, em 30 de setembro de 1988, a ONG Geledés – Instituto da Mulher Negra, da qual Maria Lucia da Silva é presidente de 1988 a 1994. Com sua atuação no Geledés, conhece a fundação norte-americana Projeto Nacional de Saúde das Mulheres Negras e viaja para Atlanta (Estados Unidos), para conhecer a sede do projeto e participar de encontro com cerca de duzentas mulheres negras.

Em seu retorno ao Brasil, cria a iniciativa Construindo Nossa Cumplicidade, que permanece ativa por três anos. O projeto, com dinâmicas de grupo em encontros quinzenais, cria um espaço para mulheres compartilharem suas vivências e receberem acompanhamento psicológico.

No fim de 1994, em diálogo com a psicóloga Marilza de Souza sobre a questão da psicologia negra, pensa a construção de uma clínica voltada ao atendimento de pessoas negras. A ideia ganha forma em setembro de 1995, quando juntas fundam o Instituto AMMA Psique e Negritude, cujo objetivo é pensar o racismo e a psicologia. Atua como presidente do Instituto entre 2008 e 2011 e, posteriormente, de 2016 a 2019, quando deixa a presidência e se torna conselheira da instituição.

Suas principais contribuições estão nos livros Negro no Brasil: questões para a psicanálise (2007), Psique e negritude: os efeitos psicossociais do racismo (2008) e Violência e sociedade: o racismo como estruturante da sociedade e subjetividade do povo brasileiro (2018). Neste último trabalho, busca mostrar que, no Brasil, a dificuldade de perceber a dimensão da questão racial trava o processo de construção e constituição do país como nação. Em 2014, recebe por meio do Geledés a premiação do concurso Desafio de Impacto Social Google Brasil.

Em sua trajetória, Maria Lúcia da Silva contribui para construção de uma psicologia e uma psicanálise no Brasil que considere o fator racial na compreensão do indivíduo e sua subjetividade. Sua atuação pioneira permite a construção de atendimento clínico que incorpore os efeitos psicossociais do racismo, abrindo espaço para a assistência a pessoas negras de modo mais humanizado.