Mãe Menininha do Gantois
1894-
1986
- Descrição
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Atualização 13/04/2023
Maria Escolástica da Conceição Nazaré (Salvador, Bahia, 1894 – idem, 1986). Ialorixá. Descendente de africanos da nação Egbá-Arakê, das terras de Agbeokutá, no sudoeste da Nigéria, é quem lidera a casa de candomblé Ilé Ìyá Omi Àse Ìyámasé, do Terreiro de Gantois, de 1922 a 1986. Mãe Menininha, filha de Oxum, torna-se conhecida e respeitada nacionalmente por sua bondade e forma igualitária com a qual trata a todos.
Nasce e é criada dentro de sua casa de candomblé. É bisneta da nigeriana Maria Julia da Conceição Nazaré, fundadora do terreiro do Gantois, em Salvador, e sobrinha-neta da mãe de santo Pulchéria Maria da Conceição, responsável por sua iniciação na religião e quem lhe cunha o apelido “menininha”. Dança o candomblé desde os seis anos, sendo iniciada para Oxum aos oito. Desde muito nova, demonstra imenso respeito e seriedade no trato com a religião.
Após o falecimento de Mãe Pulchéria, há grande disputa pela liderança da casa, já que a sucessora, Maria da Glória Nazaré, mãe de Menininha, morre antes que se completem as tradicionais cerimônias de luto pela morte de Pulchéria. Na casa de candomblé do bairro do Gantois, a passagem da liderança, exercida pelas mães de santo, é realizada obedecendo a linhagem das mulheres que remonta à Maria Julia da Conceição Nazaré, fundadora da casa. Menininha, apesar de ser a natural sucessora, aos 26 anos não se envolve na disputa e se distancia da casa, apesar do apelo de algumas irmãs. Antes do exercício da liderança da casa, trabalha como costureira, bordadeira e quituteira e, no início dos anos 1920, começa um relacionamento com o advogado Álvaro MacDowell de Oliveira. Passaram a residir no Lucaia, na Baixada do Rio Vermelho. De família sergipana, Álvaro é viúvo e pai de uma menina antes de se unir à Mãe Menininha. Após a junção dos dois, o casal tem outras duas filhas: Cleusa (1923-1998) e Carmem (1928). A disputa pela liderança da casa se encerra em 18 de fevereiro de 1922, quando os orixás escolhem Menininha, à época com 28 anos, para ocupar o cargo de nova mãe de santo da casa.
Entre os anos 1930 e 1970, amparadas pela Lei de Jogos e Costumes de 1930, tornam-se comuns as chamadas “batidas policiais”, incursões em terreiros para apreender objetos, agredir e prender sacerdotes, sacerdotisas e seguidores das religiões afro-brasileiras. A Delegacia de Jogos, Costumes e Diversões Públicas é a responsável por autorizar a realização de rituais e limita o horário de término às 22h. Essas incursões policiais só acabam em 1976, quando o então governador da Bahia, Roberto Santos (1926-2021), sanciona o Decreto-Lei nº 25.095, liberando as casas de candomblé da obtenção de licença e do pagamento de taxas à Delegacia. Mãe Menininha é lembrada como uma das principais articuladoras do término das restrições a cultos impostas pelo poder público.
A influência de Mãe Menininha do Gantois vai para além dos terreiros: ela abre as portas aos brancos e católicos e é com seu carisma que convence diversos bispos baianos a permitirem a entrada de mulheres – inclusive ela – vestidas com as roupas tradicionais das religiões de matriz africana nas igrejas. Durante determinado período, ela frequenta igrejas católicas e assiste às celebrações de missas.
Em 1972, Dorival Caymmi (1914-2008) compõe a música “Oração de Mãe Menininha” em homenagem à ialorixá. A sacerdotisa recebe, em 1976, homenagem da escola de samba carioca Mocidade Independente de Padre Miguel, com o enredo “Mãe Menininha do Gantois”, do carnavalesco Arlindo Rodrigues (1931-1987), interpretado pela cantora Elza Soares (1937-2022) e o puxador Ney Vianna (1942-1989). Em 1992, é criado o Memorial Mãe Menininha do Gantois, integrado ao espaço sagrado do terreiro, reunindo mais de 500 peças, entre objetos rituais e pessoais, referentes à história de Mãe Menininha. Em 1994, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) lançou um selo comemorativo para marcar o centenário de seu nascimento. Em 2017, no carnaval paulista, a escola de samba Vai-Vai homenageia Mãe Menininha com o enredo “No xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu... Menininha, mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil”.
Mãe Menininha recebe ainda o título de presidente de honra, orientadora e fundadora da União Brasileira de Estudos e Preservação dos Cultos Africanos. É também comendadora da Ordem das Artes e das Letras pelo Ministério da Cultura da França e presidente da Sociedade Gueledé. Recebe honrarias como a Comenda Dois de Julho, a Comenda da Legião do Mérito Presidente Antônio Carlos e a Comenda Regente Feijó.
Mãe Menininha morre em Salvador, em 13 de agosto de 1986, de causas naturais, aos 92 anos. O comando da casa é assumido primeiramente por sua filha mais velha, Cleusa, e, após a morte desta, por sua filha mais nova, Carmen. O enterro de Mãe Menininha é uma das procissões mais grandiosas da Bahia.
Admirada pela sabedoria, gentileza, conhecimentos, humildade e pulso firme, Mãe Menininha do Gantois se torna a grande responsável pela difusão e popularização do candomblé na Bahia. Mantém amizade e se torna conselheira espiritual de várias personalidades ilustres, a exemplo de Jorge Amado (1912-2001), Vinicius de Moraes (1913-1980), Dorival Caymmi, Zélia Gattai (1916-2008), Pierre Verger (1902-1996) e Nina Rodrigues (1862-1906). Sua luta pela legalização da religião dos orixás e a consequente integração da religião na sociedade fazem dela uma figura marcante e respeitada na historiografia do país.