Lúcia Xavier


1959

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foto: divulgação Criola

Atualização 13/04/2023

Lucia Maria Xavier de Castro (Rio de Janeiro, 1959). Assistente social, candomblecista, ativista dos direitos humanos, intelectual do movimento de mulheres negras brasileiras e fundadora da Criola, organização da sociedade civil sediada na cidade do Rio de Janeiro. Atua há mais de três décadas na luta por cidadania para as pessoas negras no Brasil. Escreve na imprensa sobre injustiça social e políticas  públicas para a  igualdade social, intercruzando questões de raça e gênero.

Filha de Neli Xavier de Castro e do operador de som Inácio Antônio de Castro, fica órfã de pai aos 2 anos de idade. Sua mãe, empregada doméstica, é responsável pelo sustento da família e pela criação das três filhas. Por causa de dificuldades financeiras, Lúcia e uma de suas irmãs ficam temporariamente em um orfanato. Contudo, voltam para a família estendida, graças ao empenho da avó paterna, também responsável pela criação da família nuclear de Lucia.

Durante parte da infância, depende do trabalho da mãe, das redes religiosas, especialmente as espíritas, e do apoio da família, especialmente da avó. Sua educação se dá em escolas públicas da cidade. No fim da adolescência, com ajuda de amigas das mãe, consegue um trabalho e se prepara para o vestibular.  Ingressa no curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos de Goitacazes, onde coloca em prática seu primeiro trabalho como assistente social. Um ano depois, transfere-se para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde completa a graduação.

Nas horas de sociabilidade e lazer, frequenta os espaços das juventudes negras cariocas: escolas de sambas, bailes de funk e de soul e atividades culturais na casa de amigos, especialmente durante os anos de 1970 e 1980. Em 1981, ingressa oficialmente no Movimento Negro e participa do Acorda Crioulo, grupo formado por pessoas do samba, da associação de moradores da comunidade Cidade de Deus. Passa a frequentar também os encontros de militantes do Rio Janeiro, onde conhece algumas das suas principais organizações, como o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN) e a escola de samba Quilombio, ambos espaços centrais para o ativismo negro carioca.

Filia-se ao IPCN em 1984, onde entra em contato com o pensamento de autores negros revolucionários africanos, como o bissau-guineense Amilcar Cabral (1924-1973), o moçambicano Samora Machel (1933-1986), o sul-africano Nelson Mandela (1918-2013) e o congolês Patrice Lumumba (1925-1961). À época, a organização conta com militantes como Lélia Gonzalez (1935-1994), Januário Garcia (1943-2021), Yedo Ferreira (1933) e Amauri Mendes Pereira (1951). Lucia integra o grupo de mulheres negras que se reúnem para discutir suas pautas e questionar o machismo presente no interior das organizações do movimento negro.

Em 1992, é chamada a formar uma nova organização de mulheres negras, o Criola, e concomitantemente, atua no campo dos direitos das crianças e dos adolescentes, trabalho que exerce até 1997. Na organização Criola, formada inicialmente por dez sócias, trabalha diretamente com a temática das mulheres negras e desenvolve com o grupo oficinas com temas diversos, como saúde da mulher negra, direitos humanos, geração de emprego e renda, além de cursos e treinamentos.      

No movimento de mulheres negras e do movimento negro, participa de vários eventos, como as marchas do ano do centenário da abolição, os encontros nacionais de mulheres negras, os eventos internacionais na América Latina e a Conferência de Durban. Como uma das lideranças mais destacadas do Rio de Janeiro, torna-se a principal expressão pública do Criola.

Em 2018, a ativista carioca é reconhecida na  IV Homenagem Maria do Espírito Santo Silva pela Valorização das Defensoras dos Direitos Humanos, premiação da organização de direitos humanos Justiça Global. A biografia de Lucia Xavier é entrelaçada aos processos de democratização do país e, em especial, às lutas pelos direitos humanos e das mulheres negras.