Lúcia Gato
1959-
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Atualização 13/04/2023
Maria Lúcia Gato de Jesus (São Paulo, São Paulo, 1959). Atriz. Filha do ferroviário sindicalista Sebastião Gatto e da costureira Aparecida Conceição Gatto realiza toda sua formação em escolas públicas, com exceção do Colégio Oswaldo Cruz Pais Leme, onde finaliza o ensino médio. Como grande parte da juventude negra de São Paulo nos anos 1970, participa das festas populares conhecidas como bailes blacks, espaços centrais para redefinição positiva e afirmativa da identidade dos negros brasileiros. Antes ingressar na universidade, frequenta o Equipe, curso preparatório para vestibular, onde toma contato com o movimento estudantil crítico da ditadura civil-militar (1964-1985), grupo ainda marcado pelas utopias hippies dos anos 1960 e imerso na arte e na música da contracultura brasileira e da MPB.
A entrada da atriz na universidade, no começo dos anos 1980, segue o persistente padrão de mobilidade educacional de pessoas negras e pobres: frequentar majoritariamente o sistema público de ensino durante a infância e a adolescência e cursar o ensino superior privado na fase adulta. Lucia Gato cursa ciências físicas e biológicas entre 1980 e 1984, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Campinas, cidade para a qual se muda para viver com o marido, Josemar Antonio de Jesus (1953-2008), e onde inicia a carreira como atriz no grupo amador de teatro negro Miroberfran. Uma das encenações mais marcantes do grupo é a peça Chico Rei, que problematiza a representação exclusiva da gente negra como escravos e subalternos na historiografia, na literatura e na dramaturgia brasileira sobre o período colonial. A peça propõe, de modo pioneiro para época, a releitura da história do país a partir da agência negra com foco em suas lutas por liberdade e emancipação. Para a atriz, o teatro é também a porta de entrada no movimento negro.
Em 1987, muda-se com marido e filho para São Luís, motivada pelo desejo de viver em um lugar mais próximo da natureza e dotado de cultura popular e negra pulsante. Logo nos primeiros anos na capital maranhense, a atriz se engaja no Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA) e intensifica sua atividade teatral, primeiro no grupo Mutirão, em 1987 e, no ano seguinte, na Cooperativa de Teatro de Maranhense (Coteatro-MA), da qual é uma das fundadoras. Com essas companhias, encena peças de grande sucesso na cena regional, como A arca de Noé, Cavaleiro do destino, Édipo Rei, Viva el rei Dom Sebastião, Operário da palavra, A paixão segundo nós, Contos cruéis, Macbeth, entre outras apresentações. A partir de 1989, atua com outras companheiras no Grupo Mãe Andresa, uma das primeiras e mais longevas organizações feministas de mulheres negras existentes no país. A destacada militância na instituição nos últimos trinta anos a leva a assumir a presidência do Conselho Estadual da Mulher entre 2016 e 2018.
A pesquisa e o uso da performance como forma de intervenção política são algumas das marcas da presença de Lúcia Gato nos movimentos sociais e registra a imbricação entre arte e ativismo político ao longo dessa trajetória que a consolida como uma das principais atrizes negras no Nordeste brasileiro.