Lélia Gonzalez


01.02.1935

10.06.1994

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foto: arquivo família

Atualização 13/04/2023

Lélia Gonzalez (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1935 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1994)  filósofa, professora, tradutora, ensaísta e ativista do movimento negro e feminista brasileiro. Como intelectual pública, atua  nas lutas contra a ditadura civil-militar (1964-1985), contra o regime do Aparthaid na África do Sul e em defesa dos processos de independência dos países africanos. Pensadora feminista negra e latino-americana, ela é reconhecida por sua abordagem interseccional e anticolonial, que envolvem dimensões de classes, raça e gênero.

Accacio Serafim d’ Almeida, seu pai, era ferroviário. E dona Orcinda Serafim d’ Almeida, sua mãe, de origem indígena e ama-de-leite. Durante a infância, muda-se com a família, em 1942,  para a Favela do Pinto, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, visando melhores condições de vida. O esforço econômico dessa mudança só foi possível graças à ajuda do irmão mais velho, Jaime de Almeida, jogador de futebol do Flamengo.

Lélia Gonzalez começa a trabalhar bem cedo, assim como seus irmãos e irmãs. Seu primeiro emprego é como babá. Tendo que conciliar estudos e trabalho, ela consegue encerrar os ciclos educacionais nas escolas públicas cariocas. Um distintivo fundamental em sua trajetória é  a realização dos estudos secundários no prestigiado Colégio Pedro II, instituição à época frequentada pelas classes médias, pela pequena burguesia e por famílias de elite e pouquíssimo acessível às classes populares. O número de anos estudados e a qualidade educacional a que ela teve acesso mudaram completamente os rumos de sua vida. Do Colégio ingressa na universidade, onde obtém os títulos de bacharel em História e Geografia, na Universidade do Estado da Guanabara (UEG) no  ano de  1958. Em 1962, torna-se bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual da Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro, (UERJ). Com o diploma, leciona essa disciplina para estudantes secundaristas e  torna-se professora professora de importantes estabelecimentos de ensino superior cariocas,  públicos e privados, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e a Pontifícia Universidade Católica (PUC).

Como intelectual e ativista, Gonzalez participa de numerosas formas de resistência política ao Regime Militar, por isso é vigiada pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). É umas das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), esteve na formação do Partido dos Trabalhadores (PT), atua nas mobilizações civis brasileiras contra o Apartheid na África do Sul, fundou a organização Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras, em 1983, participa das conferências da Organização das Nações Unidas (ONU). É presente nas mobilizações pela constituinte, integra  o primeiro conselho da condição feminina do Brasil e envolve-se em vários protestos e mobilizações, em especial a do centenário da abolição.

Há muitos registros da participação de Lélia Gonzalez em diferentes atividades artísticas e culturais. Em meados dos anos setenta, ela colabora com o Grêmio Recreativo de Arte Negra e com a Escola de Samba Quilombo  ao lado do mestre Candeia (1935-1978). No filme Quilombo (1984), de Cacá Diegues (1940), ela colabora com informações e argumentos históricos.

Nas artes performáticas, teve papel importante na produção dramatúrgica de Hilton Cobra (1956), especialmente para a construção da peça teatral Candaces. Pertence ao terreiro de Candomblé no Rio de Janeiro e festeja o fortalecimento dos blocos afros e afoxés em Salvador, na Bahia. Na virada dos anos 1980 para os 1990, viaja para o Caribe, onde se encontrou com um dos pais do movimento de negritude, o intelectual martinicano Aimé Césaire (1913-2008).

As principais influências intelectuais de Lélia Gonzalez  para pensar a questão dos papéis sociais das mulheres na sociedade são Simone de Beauvoir, Heleieth Saffioti, Rose Marie Muraro e Alice Walker. No que toca à questão colonial, são suas referências intelectuais como  Albert Memmi e Frantz Fanon, particularmente sobre a questão negra nas Américas as leituras de  Guerreiro Ramos, W.E.B. Du Bois, Abdias do Nascimento,Florestan Fernandes são fundamentais à autora. Assim como Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle e Silva lhe permitiram a reflexão sobre as desigualdades raciais no Brasil.  No campo da Psicanálise, Gonzalez teve influência de Sigmund Freud e Jacques Lacan, o primeiro foi fundamental para a elaboração do conceito racismo por denegação, e o foi central na sua colaboração para pensar o conceito de Améfrica Ladina

Além da produção na imprensa, três ensaios seminais são da autoria de Lélia Gonzalez: “Racismo e sexismo na cultura brasileira” (1983), Por um feminismo Afro-latino-Americano (1988) e “A categoria político-cultural da Amefricanidade” (1988). Ela é coorganizadora e coautora de  em três livros Lugar de Negro (1982), O Lugar da Mulher e  Festas Populares no Brasil (1987), este último ganhador de prêmio na Alemanha.

Gonzalez deixa como legado para o pensamento brasileiro e latino-americano uma importante produção intelectual, com  conceitos e interpretações originais. Seus livros e artigos são referências em várias áreas como Antropologia, Filosofia, História, Ciências Sociais e Psicanálise.  Seu trabalho foi traduzido em várias línguas como espanhol, inglês e francês, o que mostra a potência intelectual dessa pensadora ameafricana.