Jurema Werneck
1961
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Atualização 13/04/2023
Jurema Pinto Werneck (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1961). Médica, ativista. É uma das principais lideranças do movimento de mulheres negras no Brasil. Sua atuação política e intelectual acontece especialmente na área da saúde e dos direitos humanos. Médica, com histórico de ativismos em várias organizações da sociedade civil, é fundadora da ONG Criola. A atuação de Werneck na Anistia Internacional a coloca em evidência nos planos nacional e global.
Gradua-se em medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1986. Seu primeiro emprego é na Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro, para a qual trabalha durante cinco anos com medicina preventiva em favelas cariocas. Em seguida, atua como pesquisadora no Centro de Articulação de Populações Marginalizadas. Em 1992, funda a ONG Criola, voltada para a promoção dos direitos das mulheres negras. Em 2000, conclui, o mestrado em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em 2007, o doutorado em comunicação e cultura pela mesma instituição.
Deixa a ONG Criola em 2016 para assumir o cargo de diretora-executiva na Anistia Internacional. Integra também o conselho diretor da Global Fund for Women e se torna presidenta do conselho de administração do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Uma das marcas de sua trajetória é a luta pela garantia do acesso à saúde, direito básico e inegociável para população negra.
A trajetória de Jurema Werneck se assemelha a de muitas mulheres negras de sua mesma geração: vem de uma família pobre, composta por trabalhadoras domésticas e trabalhadores de baixo salário que enxergam na educação uma maneira de escapar da pobreza. Em sua trajetória de estudos, enfrenta problemas como o déficit de atenção e empecilhos decorrentes de sua situação financeira. Além disso, precisa lidar com a morte precoce da mãe, vítima de aneurisma cerebral negligenciado pela equipe médica. Reconhece o racismo desde cedo, mas pode contar com todo o apoio e estímulo de sua família e vizinhança para prosseguir os estudos.
Durante a graduação, é a única mulher negra da turma. Participa de um grupo de ação comunitária de saúde, em Niterói, e ingressa no movimento estudantil. Na universidade, conhece também o feminismo e se junta ao movimento de mulheres negras. Representa a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) na vaga destinada ao movimento negro no Conselho Nacional de Saúde de 2007 a 2012 e é coordenadora geral da 14ª Conferência Nacional de Saúde, em 2011.
Além disso, integra o Comitê Técnico de Saúde da População Negra (CTSPN) do Ministério da Saúde, o Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres e se torna membro suplente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) entre 2003 e 2005. É autora de várias obras sobre a saúde da população negra, da mulher negra em especial, como O livro da saúde das mulheres negras: nossos passos vêm de longe, publicado em 2000 e organizado com Evelyn C. White (1954) e Maisa Mendonça (1962).
Em meio à pandemia de Covid-19, lança a campanha “Nossas vidas importam”, cobrando medidas das autoridades para a proteção das populações vulneráveis e negligenciadas, uma vez que os maiores indicadores de letalidade da doença são identificados entre pessoas negras, seja de periferia, seja em situação de rua ou de encarceramento – estatística relacionada à discriminação histórica.
Atua ainda como representante do Movimento Alerta, grupo que reúne entidades e pesquisadores para promover estudos sobre as mortes por Covid-19 no país. É ouvida na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) [1] sobre a condução do Governo Federal durante a pandemia, ao apresentar dados que mostram a forma desigual como a pandemia tem afetado a população mais vulnerável. Além disso, o documento aponta que 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas em 2020.
Jurema Werneck está na linha de frente da defesa dos direitos humanos e do enfrentamento do racismo contra a população negra, sobretudo das mulheres negras, com foco nos temas antirracismo, direitos humanos e saúde da população negra.
Notas
[1] Em março de 2021, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) impetram um mandado de segurança (uma ação judicial em que o autor – tecnicamente chamado impetrante – busca tutelar um direito seu) no Supremo Tribunal Federal (STF) para que fossem adotadas as medidas para instalação da CPI. No dia 8 de abril de 2021, o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, determina em caráter de urgência a instalação da CPI da Covid-19 no Senado Federal. A CPI tem como objetivo apurar se há falhas por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia.