Geledés
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O Geledés Instituto da Mulher Negra é a primeira organização não governamental (ONG) de mulheres negras do Brasil, fundada em 1988, na cidade de São Paulo. É também uma das primeiras organizações da sociedade civil a ter um portal de notícias próprio na internet, criado no final do século XX. O instituto integra o movimento negro e o movimento de mulheres negras do país e redes internacionais antirracistas. Sueli Carneiro (1950), fundadora e liderança do Geledés, é uma das vozes negras mais importantes do Brasil e das Américas.
Como organização da sociedade civil, o Geledés se apresenta como instituição de defesa dos direitos das mulheres e da população negra, por entender que esses segmentos padecem de desvantagens, preconceitos, violências e discriminações no acesso às oportunidades econômicas, sociais, culturais e políticas em função das dominações raciais e sexuais historicamente presentes no país.
São dez as fundadoras do Geledés, segundo a ata que institui a organização: Edna Roland (1951), Sueli Carneiro, Solimar Carneiro, Maria Lucia da Silva, Elza Maria da Silva, Ana Maria Silva, Sonia do Nascimento, Deise Benedito, Tereza de Oliveira e Lucia Bernardes de Souza. Além das fundadoras, muitas mulheres negras de destaque passam pela organização, a exemplo de Cidinha da Silva (1967), Eliane Cavaleiro e Antonia Aparecida Quintão.
O termo “geledés”, adotado como nome pela organização, tem como referência uma forma de sociedade secreta africana com caráter religioso, formada por mulheres. Tem como fundamento a ancestralidade e o vínculo com o poder feminino presente em sociedades tradicionais yorubás, na África Ocidental. Assim, apesar de ser uma organização com tecnologia moderna voltada para a justiça social de raça e gênero, o Geledés se ancora também em valores e tradições ancestrais.
No início da década de 1990, o instituto cria o projeto de formação de jovens negros de periferias, ligados ao movimento hip-hop. Essa aproximação é muito importante, pois ajuda a difundir o antirracismo e ações contra as desigualdades de gênero na formação desses jovens. A organização editou a revista Pode crê! (1993), que tem importantes registros da relação com os movimentos culturais das periferias paulistas. Com esse projeto, o Geledés influenciou artistas importantes, a exemplo dos músicos do grupo Racionais MC’s (1980), frequentadores da formação do Geledés.
O instituto realiza intervenções importantes no debate público e midiático brasileiro. Dentre eles, em 1994, a ONG entra com uma representação judicial contra a principal emissora televisiva brasileira por esta apresentar uma telenovela marcada por estereótipos raciais, abrindo um debate importante sobre a dramaturgia brasileira e as representações racistas. A novela em questão é Pátria minha (1994-1995), de Gilberto Braga (1945-2021). Em um dos capítulos, o empresário Raul Pelegrini, interpretado por Tarcísio Meira (1935-2021), profere insultos racistas contra o jardineiro Kennedy, interpretado por Alexandre Moreno (1969), que não reage com dignidade à situação, reforçando a naturalização dos lugares sociais de raça e classe, bem como a humilhação de cunho racial. Segundo a alegação da SOS Racismo, assessoria jurídica do Geledés para casos de discriminação racial, o episódio fere a autoestima do negros. A ação do instituto gera polêmica e tem efeitos: na novela seguinte, a emissora cria um núcleo com uma família negra, de classe média, fugindo aos estereótipos dominantes em suas formas simbólicas tradicionais e recorrentes.
Uma das entidades pioneiras no debate sobre ações afirmativas no Brasil, o Geledés, além de se apresentar no debate público a favor das cotas, desenvolve uma parceira com o Bank Boston, com o objetivo de subsidiar e acompanhar os estudos de jovens negros na sua trajetória educacional na escola básica. Este se torna um projeto piloto de ações afirmativas no país, desenhado em conjunto com o ambiente corporativo e a organização da sociedade civil. Trata-se do projeto Geração XXI, cujos resultados gera o livro Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras (2003), organizado por Cidinha da Silva.
Durante as campanhas em favor das ações afirmativas, o Geledés tem protagonismo no debate ao lado de outras organizações antirracistas. Na Conferência de Durban, em 2001, a organização se faz representar também. Em 2010, no contexto do debate sobre a constitucionalidade das cotas no Supremo Tribunal Federal (STF), tem atuação direta por meio da figura de Sueli Carneiro, que discursa em um tribuno histórico em favor das cotas.
Na era digital, a ONG mantém o Portal Geledés desde 20 de novembro de 1997. O portal integra a imprensa negra, trazendo matérias nacionais e internacionais de relevância sobre questões raciais e de gênero, além de publicar textos de autores e autoras negros brasileiros. No campo da sociedade civil, o Gedelés integra, no início do século, a Articulação Nacional de Mulheres Negras (ANMN) e, em 2019, é uma das instituições fundadoras da Coalização Negra por Direitos (CND), atuando de forma intensa nas campanhas de igualdade racial, de combate à fome e de denúncias e violências contra as pessoas negras.
O Geledés Instituto da Mulher Negra integra uma constelação de organizações antirracistas no país, que formou gerações de intelectuais, lideranças comunitárias, ativistas e artistas das periferias brasileiras e atua de forma constante no debate público nacional e nas redes internacionais, especialmente latino-americanas. Por seu histórico, o Geledés é uma das organizações brasileiras mais respeitadas no mundo.