Frente Negra Brasileira (FNB)
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A Frente Negra Brasileira (FNB) é fundada em São Paulo, em 16 de setembro de 1931, e extinta em 1937, durante o Estado Novo (1937-1945)[1]. Formada por filhos e netos de ex-escravizados, a organização marca a história política brasileira, chegando a contar com filiais em diferentes partes do território nacional. Milhares de pessoas negras se filiam à instituição, cujo objetivo é o combate ao preconceito de cor na sociedade, na política e no mercado de trabalho.
A FNB surge no contexto do fim da escravidão e da formação de uma sociedade de mercado. O período pós-abolição brasileiro é marcado por iniciativas e associações negras que combatem o preconceito de cor e promovem a inserção dos negros na sociedade brasileira. Somente na cidade de São Paulo, entre 1897 e 1930, o historiador Petrônio Domingues conta 85 associações negras em diferentes áreas de atuação, como grêmios recreativos, cordões carnavalescos, entidades beneficentes, cívicas e dançantes. Quando a FNB surge na capital paulista, ela representa um acúmulo dessas experiências e debates que já marcam o espaço público.
A frente tem dois presidentes: Arlindo Veiga dos Santos (1902-1978), que permanece no cargo até 1934, e Justiniano Costa, que assume a direção da organização até 1937. Durante boa parte das suas atividades, a sua sede é localizada em um prédio na atual avenida da Liberdade, número 196. O sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995) sugere a existência de 200 mil integrantes na FNB. Apesar de sua centralidade em São Paulo, a FNB também atua em outras cidades no Estado e tem filiais no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Outras entidades com o mesmo nome surgem também em cidades do nordeste, como Recife, em Pernambuco, e Salvador, na Bahia.
Além de atividades recreativas e de sociabilidade, a Frente Negra Brasileira organiza o jornal A voz da raça, com importante papel de divulgação das atividades, ações e agendas políticas da organização e do movimento negro dos anos 1930. Além de marcar a história da imprensa negra brasileira e da comunicação impressa do país, a organização também se destaca pelo trabalho educacional e pedagógico. Já no seu primeiro estatuto, de 1931, a FNB se refere à criação de escolas técnicas e de artes, demonstrando franco interesse em educar, qualificar e instrumentalizar a população negra brasileira para o mercado de trabalho.
A frente se torna um partido político em 1937 e, desse modo, figura como o primeiro partido negro sobre o qual há registro no Brasil. Contudo, a agremiação partidária não chega a disputar as eleições, pois, com a criação do Estado Novo, o então presidente Getulio Vargas (1882-1954) extingue partidos e organizações políticas, instaurando um período ditatorial.
Visando o fortalecimento da luta antirracista e do movimento negro em sua defesa da cidadania, a Frente Negra Brasileira carrega uma atuação múltipla, que inclui intervenção no debate público, criação de espaços de sociabilidade e lazer em contextos de preconceitos e discriminação raciais, produção de conhecimento sobre as relações raciais no Brasil no contexto do pós-abolição e fortalecimento dos valores igualitários. Investe também na educação de crianças, jovens e adultos como estratégia de superação de desigualdades raciais e de enfrentamento de estereótipos coloniais sobre as pessoas negras.
Notas
[1] O Estado Novo é o nome dado à ditadura Vargas, que compreende o período que vai do Golpe de 15 de novembro de 1937 até a deposição de Getúlio Vargas, ocorrida no dia 29 de outubro de 1945.