Educafro


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Foto: Vera Massaro/Alesp

Atualização 13/04/2023

Criado em 1993, no Rio de Janeiro, o projeto Educação e Cidadania para Afrodescentes e Carentes (Educafro) chega a São Paulo em 1997. Idealizada pelo frei fransicano David dos Santos (1952), a organização combate o racismo e atua em diferentes áreas, em especial em projetos educacionais, como os cursinhos pré-vestibulares, presentes em diversas periferias do Brasil.

Desde a década de 1980, lideranças religiosas e civis veem a necessidade de criar condições para garantir perspectiva de futuro para jovens negros e pobres excluídos do sistema universitário do país. Valendo-se das formas de intervenção das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) e das estruturas da Igreja Católica, como paróquias e seminários, lideranças negras herdeiras do ideário da Teologia da Libertação, em especial ligadas ao Grupo de Religiosas, Seminaristas e Padres Negros (Geni), passam a estimular ações sociais que impactam a história política do Brasil.

No início da década de 1990, surgem em todo o país diversos projetos educacionais, entre elas os cursos preparatórios para negros e estudantes de classes populares e escolas públicas. Essas iniciativas visibilizam o tema das desigualdades no ensino superior e a necessidade de medidas civis e governamentais para corrigir disparidades econômicas ao acesso e à permanência nas universidades brasileiras. Desse modo, mostram que estudantes de estratos populares e negros também têm direito ao diploma do ensino superior.

Em 1992, surge em Salvador um curso preparatório para os vestibulares destinado a jovens e adultos da capital baiana. O curso leva o nome de Steve Biko (1946-1977), importante liderança sul-africana na luta contra o a política de apartheid que perdurou na Africa do Sul entre 1948 e 1994. No ano seguinte, o Cursinho para Negros e Carentes (PVNC) é criado em São João do Meriti, município da Baixada Fluminense. Em 1994, o Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP), formado por funcionários, docentes e discentes da instituição, cria seu próprio cursinho preparatório para estimular a entrada de estudantes negros na instituição.

Essas iniciativas motivam frei David, um dos fundadores do PVNC, a criar a Educafro. Na virada da década de 1990 para os anos 2000, a organização conta com dezenas de cursinhos espalhados nas periferias das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro. A organização é também responsável por realizar diversos protestos pelas ações afirmativas nas universidades brasileiras, assim como atividades públicas que denunciam a discriminação racial e a violência contra a juventude negra. A Educafro é uma das organizações integrantes do movimento negro brasileiro.

A instituição realiza parcerias com escolas privadas e universidades e faculdades confessionais, visando à concessão de bolsas integrais ou parciais para estudantes da organização aprovados em vestibulares. O projeto também participa ativamente das reivindicações políticas de democratização do ensino, como isenção de taxa nos vestibulares para estudantes de baixa renda, adoção e expansão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), instituição de recorte racial no Programa Universidade para Todos (Prouni), além de lutar pelas cotas e defender ações afirmativas para pessoas pretas, pardas, indígenas e oriundas das escolas públicas.

Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília (DF) são os estados onde a organização tem cursos preparatórios. Além de atividades educacionais para garantir o acesso à graduação universitária, a organização também realiza tanto cursos preparatórios para a pós-graduação, como luta pela implementação de políticas de inclusão racial no mercado de trabalho e em carreiras profissionais com pouca participação de negros e pessoas de baixa renda, como a diplomacia. 

Na busca por ampliação da cidadania no Brasil, a Educafro tem papel central na luta contra o racismo, especialmente contra as desigualdades de condições socioeconômicas que impedem o acesso ao ensino superior de estudantes pretos, pardos, indígenas e egressos de escolas públicas. Sua atuação também tem sido marcante nos debates televisivos, nos meios impressos e nas redes sociais, tornando públicas as experiências educacionais exitosas de estudantes vindos das periferias e os estratos mais desprivilegiados da sociedade.