Edna Roland


1951

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Foto: Mauricio Garcia de Souza/Alesp

Atualização 13/04/2023

Edna Maria Santos Roland (Codó, Maranhão, 1951) é psicóloga, gestora pública e uma das fundadoras do Geledés – Instituto da Mulher Negra e da Organização Fala Preta. Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), atua em organizações clandestinas de esquerda e participa de ações políticas na periferia de São Paulo. Em atividades internacionais, aparece como integrante do Grupo de Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) para o programa de ação da Conferência de Durban (2001), do qual figura como relatora. 

Edna Roland nasce em uma cidade maranhense conhecida na região por suas tradições religiosas de origens indígenas e negras, mas recebe formação católica na infância e adolescência. Seu pai é branco e comerciante, e sua mãe, Maria de Lurdes dos Santos, nascida em Colinas (MA), tem ascendência negra. Aos 10 anos, com a perda prematura da mãe, muda-se com a família para Goiânia, onde passa no exame de seleção do Instituto de Educação. Completa o ensino médio no liceu da cidade. Encaminhada pelo pai, divide as atividades diárias entre escola formal e cursos de inglês e de datilografia ao lado de suas duas irmãs, para que conciliem estudos e direcionamento profissional.

No segundo ano do ensino médio, recebe uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, pelo programa American Few Studies. O pai, embora não tenha muito dinheiro, é capaz de reunir a quantia necessária para a filha viajar para o exterior. Em 1967, a adolescente chega à Califórnia para viver com uma família branca, em uma região quase rural, e frequenta a high school, onde entra em contato com outros modelos de vida familiar e educacional, além de vivenciar as transformações dos jovens durante a década de 1960.

De volta ao Brasil, aos 18 anos, trabalha em uma clínica odontológica em Belo Horizonte (MG) e, em 1969, ingressa no curso de psicologia na Universidade Pública de Minas Gerais (UFMG). O ingresso na universidade coincide com o recrudescimento da ditadura a partir da implementação do Ato Institucional nº 5 (1968). Dos seus relatos saem experiências que abrangem desde a impossibilidade de se colar um cartaz na parede até as notícias sobre a morte de um dos colegas de curso, executado na Guerrilha do Araguaia [1].

Nesse período, se dá conta de que a insegurança e o medo fazem parte da vida de todos: não se sabe em quem confiar, pois até professores e alunos são considerados potenciais delatores. Na UFMG, aproxima-se da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop) [2]. Sob iminente perigo de vida, os militantes da Polop se retiram da capital mineira. A organização orienta seus militantes a romper com a família e o trabalho. A mudança de cidade significa também a entrada na clandestinidade. Assim, aos 22 anos, Edna estabelece residência em São Paulo. Com vida difícil, trabalha como datilógrafa em uma livraria no centro da capital paulista.

Sua qualidade de vida muda ao ser contratada em uma empresa multinacional, onde atua como secretária bilíngue. A boa remuneração torna-se importante para a Polop, a ponto de rebelar-se contra a organização para que lhe sobre dinheiro para sobreviver e mudar o padrão precário de vida.

A partir da década de 1980, em São Paulo, atua no movimento negro e de mulheres negras. Em 1989, trabalha na  área de saúde da Fundação Geledés e se torna responsável pela concepção dos Cadernos Geledés, particularmente das edições que abordam o tema da saúde. Nos anos 1990, cria a organização Fala Preta e participa da comissão que reivindica a inclusão do quesito cor no sistema de saúde da prefeitura de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina (1934).

Nas conferências regionais preparatórias para a  III Conferência  contra o Racismo na África do Sul, participa de organizações civis e da embaixada brasileira. Além de assumir a relatoria do evento internacional em Durban, torna-se integrante do Grupo de Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) destinado a acompanhar o programa de ação da terceira conferência. Torna-se também  pesquisadora visitante no Harvard Center for Population and Development Studies.. Em 2003, atua como coordenadora de combate ao racismo e à discriminação racial da Unesco para a região da América Latina e Caribe. A Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial da prefeitura de Guarulhos comparece também como uma de suas experiências profissionais.

Edna Roland figura como uma das principais referências do feminismo negro brasileiro, com contribuições para organização da sociedade civil e governamental no âmbito do Estado. Na esfera internacional, na condição de relatora de Durban, inscreve o Brasil em um dos capítulos mais importantes da história dos direitos humanos no mundo.

Notas

[1]  Guerrilha do Araguaia  é um movimento revolucionário que se vale da luta armada contra a ditadura civil-militar brasileira. Conduzida por integrantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), formado por dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), a Guerrilha do Araguaia aconteceu no “bico do papagaio”, território hoje do estado do Tocantins, entre os anos de 1967 e 1975.  Para mais detalhes, ver o projeto Memórias Reveladas, coordenado pelo Instituto Vladimir Herzog. Disponível em http://www.memoriasreveladas.gov.br/index.php/component/phocagallery/3/detail/134-a-reacao. Acesso em: 9 out. 2021.

[2]  A Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop) foi criada em 1961. Tem expressão política no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais durante a ditadura civil-militar, período em que atua na clandestinidade, e apoia a luta armada. Ruy Mauro Marini (1932-1997) e Theotônio dos Santos (1936-2018) são os principais intelectuais da organização. Para mais detalhes ver  ABREU, Alzira Alves de. Verbete POLOP. FGV. Rio de Janeiro. Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/organizacao-revolucionaria-marxista-politica-operaria-polop. Acesso em: 9 out. 2021.