Benedito Alves da Silva


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foto: Apu Gomes/Folhapress

Atualização 13/04/2023

Benedito Alves da Silva (Eldorado, São Paulo, 1955). Liderança quilombola. Mais conhecido como Ditão, nasce na comunidade de Ivaporunduva e é uma das lideranças quilombolas mais antigas e reconhecidas do Vale do Ribeira. Militante do Movimento Negro Unificado (MNU) em São Paulo, atua nas Comunidades de Base (CEBs), ajuda a construir o Movimento dos Ameaçados por Barragens (Moab) e cria a primeira associação de comunidade quilombola do Vale do Ribeira. É presidente da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras (Eaacone) do Vale do Ribeira. Funda e se torna presidente do Diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) em Eldorado e é vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul (CBH-RB).

A comunidade de Ivaporunduva, localizada à margem esquerda do Rio Ribeira do Iguape, é a mais antiga do Vale do Ribeira. A comunidade tem origem no século XVII, quando a crise na exploração de ouro da região leva a maior parte dos mineradores a se deslocar para Minas Gerais. Atualmente, seu território de pouco mais de 3 mil hectares faz divisa com cinco outras comunidades quilombolas: São Pedro, Pedro Cubas, Nhunguara, Sapatu e André Lopes.

Ditão é filho de agricultores, que não tiveram oportunidade de se alfabetizar, e toda sua infância é vivida na comunidade. Começa a trabalhar na roça com os pais aos sete anos de idade e a ser alfabetizado aos nove. Aos 18 anos, Ditão passa um ano trabalhando em uma fazenda de palmito jussara em Mangaratiba, Rio de Janeiro, e aos 22 se engaja nos trabalhos de abertura de estradas, morando em um acampamento. Retorna à comunidade e se casa, retomando o trabalho na roça. Com a morte prematura do pai, em 1979, Ditão assume responsabilidades na criação do grupo de quatro irmãos mais novos.

A nova legislação ambiental e a instalação de Unidades de Conservação (UC) sobrepostas aos territórios de ocupação tradicional, a partir da década de 1950, no Vale do Ribeira, têm grande impacto sobre os modos de vida local e sobre o percurso de Ditão. Se a presença de estruturas, serviços e políticas públicas já era quase nula na região, a criação do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), em 1958, dos Parques Estaduais Ilha do Cardoso, em 1962, de Jacupiranga, em 1969, e Carlos Botelho, em 1982, e da Estação Ecológica Jureia-Itatins, em 1986, agravam a situação de isolamento das populações negras do Vale do Ribeira, com a proibição das suas práticas de caça e de manejo e o impedimento da continuidade ou da melhoria dos serviços de transporte, educação, saúde, saneamento, dado que a presença de moradores nas UCs passa a ser ilegal.

A situação aproximou-o dos movimentos sociais a partir de meados da década de 1970, quando começa a frequentar o Quilombo Central, nome dado à sede nacional da entidade Agentes de Pastoral Negros, localizada na Praça da Sé, na cidade de São Paulo, onde também faz seu primeiro contato com militantes do MNU. “Foi quando tudo começou”, diz ele.

Paradoxalmente, no final da década de 1980, às pressões representadas pela legislação ambiental, somam-se as ameaças de deslocamento forçado e desfiguração ambiental da região, trazidas pela proposta da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) de exploração dos recursos energéticos do Rio Ribeira. É a autorização dada pelo Governo do Estado de São Paulo para o início dos estudos de viabilidade, no ano de 1990, que leva a ação missionária católica presente do Vale do Ribeira a elaborar, com o apoio da Diocese do município de Registro, um projeto em defesa das 2 mil famílias negras ameaçadas de perderem suas terras e de outras 100 mil pessoas que iriam sofrer as consequências da construção da hidrelétrica de Tijuco Alto.

Ditão participa da criação do Moab, primeiro em Eldorado, mas depois por todo o Vale do Ribeira paulista e paranaense, com o apoio das organizações ambientais do estado, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e de universidades. O movimento passa a organizar, anualmente, manifestações públicas em diferentes cidades do Vale do Ribeira e em São Paulo, denunciando os riscos representados pelos projetos hidrelétricos no Ribeira. Com a privatização da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), três dos quatro projetos hidrelétricos (Batatal, Funil, Itaóca) são abandonados, permanecendo o projeto de Tijuco Alto como última ameaça.

Em meados dos anos 1990, a militância negra do Vale do Ribeira toma conhecimento do direito constitucional das comunidades remanescentes de quilombos às suas terras, previsto no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988. Em 1994, Ditão participa da fundação da Associação Quilombo de Ivaporunduva, a primeira do Vale do Ribeira a entrar com uma ação judicial pela regularização fundiária das suas terras com base no artigo constitucional. Em 1995, é criada a Eaacone, que desencadeia um processo mais amplo de mobilização das comunidades locais. Ditão é presidente da Eaacone entre 2000 e 2003 e presidente do Diretório do PT em Eldorado no biênio 2003-2004. 

Entre 2009 e 2010, Ditão é vice-presidente do CBH-RB, criado em 1996 como parte das experiências e instrumentos de gestão ambiental integrada do Vale do Ribeira, surgidos a partir da redemocratização do país. O CBH-RB reúne representantes dos órgãos estaduais, das prefeituras e da sociedade civil em torno do gerenciamento participativo dos recursos hídricos, tendo a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.

Em 2008, a comunidade de Ivaporunduva é a primeira comunidade do Vale do Ribeira a ter suas terras reconhecidas legalmente e, em 2010, conquista o registro cartorial das suas terras.