Adhemar Ferreira da Silva


1927

2001

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foto: Oswaldo Palermo/Estadão Conteúdo

Atualização 06/03/2024

Adhemar Ferreira da Silva (São Paulo, São Paulo, 1927 - Idem, 2001). Atleta, ativista. Filho único de um ferroviário e de uma cozinheira, é considerado o maior atleta olímpico brasileiro de acordo com a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Herói do esporte, coleciona mais de 40 títulos internacionais e, fora das pistas, é lembrado por sua atividade cultural, diplomática e artística.

Adhemar conhece o atletismo aos 18 anos, após aceitar o convite de um amigo para visitar a pista do São Paulo Futebol Clube. Após receber poucas instruções em um treino, obtém a marca de 12,90 m no salto, o que impressiona a quem acompanha a atividade. Esse é o início de uma carreira com resultados expressivos, tendo o alemão Dietrich Gerner como seu treinador durante toda sua trajetória no esporte.

Adhemar começa a competir em 1947. Participa e ganha sua primeira competição, o Troféu Brasil, na qual obtém a marca de 13,05 m.O atleta se destaca no salto triplo, modalidade da qual se torna recordista sul-americano e mundial. Representa o Brasil nas Olimpíadas de Helsinque, na Finlândia, em 1952, onde conquista a medalha de ouro. Durante a prova, Ferreira da Silva bate por quatro vezes o recorde olímpico, chegando a saltar 16,22 m, marca que supera em 21 cm o recorde anterior, de 16,01 m. Em agradecimento às palmas recebidas pelo seu feito, ele corre em torno do gramado acenando para as arquibancadas. Desse modo, inaugura o costume da volta olímpica. É também pentacampeão sul-americano e tricampeão pan-americano (1951,1955 e 1959).

Funcionário da Prefeitura de São Paulo, em 1953, o campeão olímpico se ausenta do trabalho para disputar o Campeonato Sul-Americano, no Chile, no qual se sagra campeão. Na volta, teve seus dias descontados pelo então prefeito, Jânio Quadros (1917-1992). À época, Quadros faz a seguinte declaração: “Prefeitura é lugar de funcionários e não de vagabundos esportistas”. A resposta de Adhemar, durante entrevista em uma rádio, custa-lhe o emprego. É exonerado.

Casa-se em 1953 com Elza, sua amiga de infância, com quem tem dois filhos: o caçula Adhemar Ferreira Júnior, morto em um acidente de moto aos 26 anos, em 1986, e Adyel Silva.

Além do São Paulo Futebol Clube, Adhemar atua no Clube de Regatas Vasco da Gama a partir de 1955. Com o título de campeão olímpico conquistado em 1952, bicampeão pan-americano e recordista mundial de salto triplo, o esportista divide os treinos com os estudos na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) e com o trabalho de comentarista esportivo e colunista do jornal carioca Última hora.

Como atleta do Vasco da Gama, conquista cinco títulos estaduais, sendo dois do Troféu Brasil, e a medalha de ouro nas Olimpíadas de Melbourne, em 1956 – trata-se da sua segunda láurea seguida, tornando-se o primeiro atleta brasileiro bicampeão olímpico. Durante os Jogos Olímpicos em que conquista o seu segundo ouro, o atleta estabelece um novo recorde de 16,35 m. Ainda, obtém a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Chicago, em 1959 – trata-se da sua terceira consecutiva, tornando-se tricampeão pan-americano.

Em 1956, mesmo ano das Olimpíadas de Melbourne, participa como ator na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes (1913-1980), e no filme franco-italiano Orfeu Negro, lançado em 1959, feito a partir do texto teatral. A película conquista o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Em 1960 vence o Campeonato Luso Brasileiro, em Lisboa (Portugal), e encerra a sua carreira. Adhemar se despede do atletismo na prova realizada no Complexo Esportivo do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1° de outubro de 1960. No mesmo ano, quando sofre com os efeitos da tuberculose, é desclassificado nos Jogos Olímpicos de Roma – desde então, não participa mais de Olimpíadas.

Poliglota, Adhemar também estuda escultura na Escola Técnica Federal de São Paulo (1948), Direito na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (1968) e, em 1989, já com mais de 60 anos, termina mais um curso superior: Relações Públicas, na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Exerce ainda o cargo de adido cultural na embaixada brasileira em Lagos, na Nigéria, entre 1964 e 1967. Assume em 1996 o cargo de coordenador da área de esportes das Faculdades Santana, em São Paulo.

No escudo do São Paulo Futebol Clube, as duas estrelas douradas localizadas na parte superior foram adotadas em sua homenagem e fazem referência aos recordes mundiais batidos por ele. Adhemar recebe, em 2000, a Ordem do Mérito Olímpico, condecoração do Comitê Olímpico Internacional (COI), e títulos honoríficos da Finlândia, Japão e Austrália.

Em 2012, Adhemar Ferreira da Silva é imortalizado no Hall da Fama do atletismo. Ele é o único brasileiro a representar o país no salão da World Athletics, órgão anteriormente conhecido como International Association of Athletics Federations [Associação Internacional das Federações de Atletismo] (IAAF).

Em 2021, no dia em que completa 94 anos, recebe a placa do Patrimônio Mundial do Atletismo, ou World Athletics Heritage Plaque, da World Athletics, em referência ao primeiro recorde mundial obtido pelo brasileiro. A distinção é colocada no Centro Esportivo Tietê, antiga sede do Clube de Regatas Tietê, no bairro da Luz, em São Paulo. O esportista empresta ainda seu nome ao troféu Adhemar Ferreira da Silva, criado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) em 2001, que homenageia atletas e ex-atletas que representam os valores que marcam a carreira e a vida do bicampeão olímpico, como eficiência técnica e física, esportividade, respeito ao próximo, companheirismo e espírito coletivo.

O nome do atleta torna-se sinônimo de vitória, herói mundial, ao conseguir romper com as barreiras sociais e raciais. Para além das marcas esportivas, Adhemar Ferreira da Silva deixa um legado inspirador, multifacetado e único.